Shell lucra 9000 milhões e engorda resultados recorde do sector petrolífero

Segmento do gás natural e corte de custos compensaram queda dos preços do petróleo e levaram a Shell para lucros recorde de quase nove mil milhões de euros no primeiro trimestre de 2023.

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Shell alcançou lucros recorde no primeiro trimestre de 2023 Reuters/MAY JAMES

Numa altura em que os preços do petróleo têm vindo a cair significativamente face aos valores que se registavam no ano passado, as empresas do sector continuam a reportar lucros recorde, prolongando o cenário já verificado no conjunto de 2022. A Shell é o mais recente exemplo desta tendência, ao alcançar lucros recorde de quase nove mil milhões de euros no primeiro trimestre deste ano.

Os resultados foram comunicados nesta quinta-feira pela petrolífera britânica, que dá conta de que, no primeiro trimestre de 2023, alcançou lucros de 9,65 mil milhões de dólares (mais de 8,7 mil milhões de euros, à cotação actual), um valor que supera as expectativas do mercado e que corresponde ao maior resultado trimestral já reportado pela empresa, representando um aumento de quase 6% face aos lucros que tinham sido alcançados em igual período do ano passado.

A empresa mantém, assim, a tendência já registada em 2022, ano em que duplicou os lucros face a 2021 e alcançou um resultado líquido de cerca de 37 mil milhões de euros. Na altura, a valorização expressiva dos preços da matéria-prima foi o principal factor apresentado pela Shell, assim como pelas restantes petrolíferas que apresentaram lucros recorde, para justificar os resultados.

Agora, pelo contrário, os preços do petróleo têm vindo a cair nos mercados internacionais. Por esta altura, o barril de Brent, matéria-prima negociada em Londres e que serve de referência para o mercado europeu, está a negociar nos 73 dólares, muito abaixo dos mais de 100 dólares que eram registados no ano passado. Já o West Texas Intermediate, negociado em Nova Iorque, negoceia abaixo da fasquia dos 70 dólares, mantendo-se na casa dos 69 dólares por barril.

Vários factores contribuem para compensar as perdas com a queda do preço da matéria-prima. De acordo com a Shell, os resultados obtidos são explicados pela "performance operacional robusta", bem como com a redução dos custos operacionais e a melhoria dos resultados no segmento do gás natural. Perante estes resultados, a petrolífera decidiu avançar com um plano de recompra de acções no valor de quatro milhões de dólares (mais de 3,6 mil milhões de euros).

Os resultados da Shell são apresentados já depois de outras petrolíferas terem reportado lucros expressivos. Foi o caso da também britânica BP, que alcançou um resultado líquido de cinco milhões de dólares no primeiro trimestre, ou das norte-americanas ExxonMobil e Chevron, que alcançaram lucros de 11 mil milhões e 6,5 mil milhões, respectivamente, no conjunto dos três primeiros meses do ano.

Face aos lucros agora apresentados, são vários os apelos feitos no Reino Unido para que seja aumentada a tributação a estas empresas, tanto por parte de sindicatos como pela oposição. "Estes lucros são um insulto às famílias trabalhadoras, numa altura em que milhões de pessoas estão em dificuldades para pagar as contas astronómicas. O Governo deixa milhares de milhões em cima da mesa, ao recusar-se a impor uma windfall tax [imposto extraordinário sobre lucros inesperados] apropriada sobre empresas como a BP", comentou Paul Nowak, secretário-geral da federação sindical Trades Union Congress, citado pelo The Guardian.

"A windfall tax do Partido Conservador continua a ter uma série de excepções e há milhares de milhões a permanecerem presos em empresas de petróleo e gás através de subsídios especiais que não estão disponíveis para qualquer outra parte do sector energético", criticou ainda Ed Miliban, do Partido Trabalhista, citado pelo mesmo jornal.

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