Cartas ao director
Éramos assim absurdos em 2023
Ana Sá Lopes, no Dia da Liberdade, revisitou a biografia de Filomena Mónica. Nela, a autora retratava a sociedade portuguesa pré-25 de Abril, relembrando, sobretudo aos que não a testemunharam, a tacanhez, a mediocridade e a clausura que a dominavam. Não obstante todo o progresso entretanto realizado, também os nossos filhos e netos dentro de 50 anos olharão para trás e escreverão crónicas semelhantes sobre o nosso presente. A mesma apatia revela-se hoje na forma como lidamos com a crise ambiental. O domínio e a dependência dos combustíveis fósseis, a profusão do plástico desde a nossa casa até às profundezas dos oceanos, a escassa reciclagem, o colapso dos ecossistemas, a extinção de espécies e, tal como em 1974, a desfaçatez e hipocrisia reinantes decerto irão ser lamentados em 2073. A maioria não tinha posição, estava confortável ou apática com a “situação”.
Leonardo Silva, Lisboa
Há um elefante na sala
As próximas legislativas realizar-se-ão em 2026. Contrariamente ao expectável, já quase todos os partidos são liderados por quem, quase que certamente, concorrerá a primeiro-ministro. Luís Montenegro, André Ventura, Rui Rocha, Paulo Raimundo, Inês Sousa-Real e Rui Tavares. Supondo-se que Mariana Mortágua vença as eleições internas no BE, há, sem dúvida, um grande elefante na sala para o PS. António Costa indubitavelmente não concorrerá outra vez a primeiro-ministro, o que significa que haverá uma disputa interna no seu partido. Talvez o grande nervosismo que se tem sentido no Largo do Rato provenha mesmo daí. É que, ao longo deste mandato, António Costa tem ‘encostado’ os seus possíveis sucessores – Pedro Nuno Santos, Marta Temido e, hipoteticamente, Fernando Medina —, restando apenas com condições políticas Mariana Vieira da Silva.
A única certeza que daqui advém é que Luís Montenegro se poderá servir no futuro dos tiros nos pés que António Costa deu no passado.
Rodrigo Castanheira, Lisboa
Visões e omissões
Leio sempre a coluna de Carmo Afonso (C.A.), que faz o necessário contraponto às opiniões de João Miguel Tavares, e li com interesse o artigo da vice-presidente da IL, Angélique Da Teresa (A.D.T.) , sobre fascismo e comunismo. Apesar de discordar da assimilação que a direita sistematicamente faz entre as duas, para mim desagradáveis, opções políticas, dou alguma razão ao que escreve A.D.T., na crítica a C.A.. Mas há, no entanto, algo que merece ser salientado: ao escrever “um opositor envenenado na Rússia, um preso político em Cuba ou um activista dos direitos humanos amordaçado na China”, tudo casos lamentáveis, não leio “os torturados e presos por mais de 20 anos sem julgamento nos EUA”. Quem defende os direitos humanos não deve achar que entre os que os atacam há os bons e os maus, são todos condenáveis. “A liberdade não tem dono” e os direitos humanos também não.
M. Helena Cabral, Carcavelos
Maior transparência
Todos os anos, em Abril, o IRS domina uma parte da actualidade noticiosa, pois é apresentada, pelos contribuintes, a declaração com rendimentos e retenções feitos no ano anterior, a concluir com reembolsos ou cobranças do remanescente em falta. Ao longo dos anos tem sido um processo com tendência para a celeridade. A reforma fiscal a isso conduziu. Daí que não se entendam alguns grãozinhos na engrenagem, em que a dita celeridade, a avaliar por situações deste ano, acaba por não o ser de facto. Que uma declaração a aguardar validação demore algum tempo (dez a 15 dias), pois aí a Autoridade Tributária (AT) investiga se existem divergências ou não, vá lá que não vá. Agora uma declaração dada como certa (o patamar seguinte) persistir em demora semelhante é que não faz qualquer sentido. Ora, é isso que está em muitos casos a acontecer. E se tivermos em linha de conta mais alguns dias para aguardar o tipo de liquidação, isso significará que um processo planeado para 20 dias se pode estender por um mês ou mais. A que é que isto se deve? A falta de pessoal? Burocracia face a picos de excesso de declarações? Retenção para, quando mais tarde a AT pagar, mais o dinheiro estará na conta do Estado? Seja o que for, uma maior transparência tributária é de exigir com respeito pelas regras e deveres do fisco e dos contribuintes.
Eduardo Fidalgo, Linda-a-Velha