Mural com obras de artistas da CPLP parcialmente destruído por funcionários da Câmara de Lisboa

Denúncia no portal “Na Minha Rua” originou desentendimento entre a Junta de Santa Maria Maior e a Câmara de Lisboa. O mural compilava 960 páginas para mostrar a diversidade linguística na CPLP.

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O mural compilava 960 páginas para mostrar as variações do idioma partilhado pelos nove Estados-membros da CPLP OBSERVATÓRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA/DR

Um mural inaugurado em Lisboa na última segunda-feira, 24 de Abril, pelos governos de Portugal e do Brasil, com textos lusófonos, foi parcialmente destruído pelo Serviço de Higiene Urbana da Câmara Municipal de Lisboa (CML), denunciou esta quinta-feira o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS).

A obra Paginário é da autoria do artista brasileiro Leonardo Villa-Forte e congrega textos de artistas dos nove Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Foi instalado em frente à sede da CPLP em Portugal, no muro do Largo do Correio Mor, na freguesia de Santa Maria Maior, numa cerimónia presidida pelos ministros da Cultura de Portugal e do Brasil.

No entanto, no dia seguinte, os funcionários da CPLP foram surpreendidos por trabalhadores do departamento da Higiene Urbana da CML a retirarem as folhas do Paginário, segundo relatou, via Facebook, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior.

"Subitamente, o painel de arte urbana intitulado Paginário, que integrava uma combinação de textos de autores de todos os países da CPLP, foi destruído às ordens de um qualquer 'burocrata' da Câmara Municipal, agora com as "costas quentes" e certamente muito saudoso do império colonial, após uma denúncia de um qualquer energúmeno ao portal 'Na Minha Rua'", escreveu Miguel Coelho na rede social.

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Facebook Paginário/DR

Contactado pela agência Lusa, o autarca confirmou que a instalação foi parcialmente destruída por funcionários municipais, na sequência de uma denúncia apresentada no portal "Na Minha Rua", e adiantou que já contactou o presidente da CML, Carlos Moedas, que lhe assegurou que iria abrir um inquérito para apurar responsabilidades.

"Foi um infeliz incidente. O senhor presidente já falou comigo. Já pediu desculpas. Disse que ia averiguar, que é o que eu espero, e que haja consequências do que aconteceu", sublinhou o autarca de Santa Maria Maior, defendendo a necessidade de a CML proceder à reparação do mural. Miguel Coelho ressalvou ainda que qualquer tipo de intervenção de limpeza deve ser coordenado pela Junta de Freguesia e não pela Câmara de Lisboa.

A Lusa contactou a CML para obter mais esclarecimentos, mas ainda não obteve resposta. Por sua vez, também em declarações à Lusa, o secretário-executivo da CPLP, Zacarias da Costa, lamentou a destruição do Paginário, realçando que se tratou de um trabalho "de várias semanas". "Só tenho que lamentar esta falta de coordenação entre a Junta de Freguesia e a câmara", apontou.

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Junta de Freguesia de Santa Maria Maior/DR

No dia da inauguração do mural, o autor, Leonardo Villa-Forte, explicou à Lusa que o Paginário celebra "a variedade de expressões" da língua portuguesa. No total, 960 páginas ocupavam 25 metros "em homenagem ao 25 de Abril", adiantou. Foram convidadas 35 pessoas dos nove Estados-membros da CPLP para enviarem páginas da literatura que expressam a sua variação linguística. As páginas têm a cor da bandeira de cada país.

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