Jack Teixeira terá divulgado documentos mais cedo e a mais pessoas do que se pensava

A primeira fuga de informação de Jack Teixeira terá acontecido dois dias após o início da invasão russa, num chat do Discord com 600 pessoas, segundo o New York Times.

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Jack Teixeira ainda não se declarou culpado ou inocente dos crimes de que é acusado MARGARET SMALL/Reuters

Jack Teixeira, técnico informático da Guarda Nacional do Massachussetts, terá começado a divulgar documentos confidenciais vários meses mais cedo do que se pensava até agora, e num fórum com muito mais pessoas, segundo o diário norte-americano The New York Times.

O jornal diz que uma anterior fuga data de Fevereiro de 2022, ainda não tinham passado 48 horas sobre o início da invasão russa da Ucrânia, e foi feita num grupo também na plataforma Discord, de jogos online, que tinha 600 utilizadores.

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Teixeira foi detido a 13 de Abril e no dia seguinte acusado por posse e divulgação de documentos secretos, o que acarreta uma pena de até 15 anos de prisão. Esta acusação é relativa à divulgação de documentos num grupo com 20 a 30 pessoas, a maior parte adolescentes e rapazes jovens. Teixeira era considerado o seu líder. Tinham em comum o fascínio por armas, ideias racistas, jogos de vídeo e política internacional.​<_o3a_p>

Esta outra fuga levantará ainda mais questões do que a primeira: como foi possível não ter sido detectada durante tanto tempo? O fórum tinha centenas de pessoas e, ao contrário do mais pequeno, em que o acesso era possível apenas depois de um convite de um dos seus membros, a este maior era possível aceder apenas através de um link no YouTube.

O New York Times não obteve resposta às perguntas que fez a vários organismos oficiais sobre esta potencial nova fuga. O jornal, que chegou ao chat através de um membro da comunidade Discord, diz que o perfil que publicou estas informações tinha elementos que permitem chegar à conclusão de que se tratava de Teixeira.

Entre o material que foi publicado (o jornal teve acesso a textos, havia fotos que foram entretanto apagadas), estavam informações sobre baixas russas e ucranianas, actividades de agências de espionagem russas e um interesse especial em reportar actualizações sobre entrega de armas e ajuda à Ucrânia.

Nas primeiras semanas da guerra na Ucrânia, Teixeira publicou algumas previsões de serviços de informação dos Estados Unidos que se vieram a verificar, como a de que a Rússia se estava a preparar para retirar as suas forças que estavam perto de Kiev, desistindo do ataque à cidade: Teixeira anunciou que tinha uma “notícia importante”, relatando esta previsão, e dois dias depois a Rússia fazia o anúncio de retirada.

Teixeira ainda não se declarou inocente ou culpado da fuga pela qual está a ser julgado, num caso que está a ser comparado em gravidade à divulgação de informação classificada no site da WikiLeaks em 2010 e às revelações sobre a espionagem da NSA em 2013 por Edward Snowden.

No caso das “Discord Leaks”, como está a ser chamado pela imprensa norte-americana, o motivo não parece ter sido o de alguém movido pelo que vê como injustiças ou falhas de instituições poderosas.

O caso de Teixeira levou a críticas sobre o grau de acesso a documentos confidenciais – que o jovem de 21 anos teria alargado devido ao seu cargo como responsável de redes – e o processo de avaliação dos candidatos a estes cargos e ainda verificações periódicas.

Uma das questões-chave para a investigação tem sido saber de que forma é que Teixeira terá obtido os documentos. A teoria é de que terá usado os seus privilégios enquanto administrador de redes.

Enquanto isso, o Washington Post diz que o FBI está agora a falar com outros membros do grupo de chat onde ocorreu a fuga pela qual Teixeira já foi acusado, incluindo tentar perceber se algum deles era estrangeiro.

Haveria uma indicação anterior de que entre os utilizadores do site havia estrangeiros, incluindo russos e ucranianos – mas também utilizadores europeus, asiáticos e sul-americanos, e o Post diz que num caso o equipamento informático de um dos membros do grupo online foi confiscado para análise pela equipa de investigação.

Um dos utilizadores deste grupo, descrito como um adolescente, republicou algumas das fotografias (Teixeira publicou, primeiro, textos, mas a certa altura também imagens dos documentos) noutro grupo no Discord.

O FBI está não só a recolher provas para o julgamento, como a tentar avaliar o dano provocado pela divulgação das informações, entre as quais avaliações sobre a guerra na Ucrânia e alegadas actividades de espionagem a aliados (incluindo uma a Israel que levantou muitas dúvidas).

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