Mais uma vez, a luta dos professores

A luta dos professores é justa, as acções da estratégia não condizem com a classe, que se quer respeitada e dignificada.

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"É importante percebermos quando estamos a ultrapassar o razoável e humildemente pararmos ou mudarmos de estratégia" Rui Gaudencio/Arquivo

Por todo o lado se ouve falar da luta dos professores, seja no café, nos transportes, nos jantares de amigos, em todos os lugares. Também na comunicação social, os artigos, entrevistas ou opiniões continuam na ordem do dia. Para um assunto ser notícia durante tantos meses é porque é importante e se ao fim de seis meses a luta desta classe ainda não se deu por concluída é porque pouco mudou, os professores não estão resignados, e a sua resiliência ainda dura.

Já não é a primeira vez que escrevo sobre este tema e a minha opinião sobre o assunto não mudou, ou seja, que os docentes precisam de lutar pela sua carreira, o tempo de serviço, pela sua progressão e ainda empenhar-se em negociar a mudança, de forma sensata, do concurso de colocação dos professores. Mas também devem preocupar-se e empenhar-se com a aprendizagem dos alunos no decorrer do presente ano lectivo.

É óbvio que não vale a pena perguntar se os professores já se lembraram do que está a acontecer às aprendizagens dos alunos, os quais levaram com dois anos de pandemia, tal como todos nós, e este ano com greves e instabilidade sucessiva nas escolas. Claro que já se lembraram, mas aparentemente a sua prioridade não são os alunos, mas a luta pela sua carreira e colocação. Há aprendizagens que só se fazem em determinadas idades, para muitos alunos, o comboio já passou e não os leva lá dentro.

Os professores são pessoas inteligentes, responsáveis e idealistas por natureza. Sabem desde sempre que abraçaram uma profissão que não é igual às outras, onde o exemplo ensina mais do que muitas palavras que se possam dizer dentro das quatro paredes de uma sala de aula. Onde se ensina mais do que conteúdos e competências, onde se educa e se forma em valores como a liberdade, o respeito e a dignidade.

É importante percebermos quando estamos a ultrapassar o razoável e humildemente pararmos ou mudarmos de estratégia. A persistência na mesma forma de comportamento mostra aos alunos, que claramente eles não estão na lista de prioridades dos professores; não é estarem em quarto ou em quinto lugar, simplesmente não estão. Que o respeito, dignidade da profissão e deles próprios, e a sua liberdade estão claramente em conflito com o respeito, dignidade e liberdade dos alunos e das famílias.

Para pessoas inteligentes, responsáveis e qualificadas em resolução de conflitos — pois têm de o fazer todos os dias ou quase todos os dias na escola —, não existem outras formas de luta, mas sobretudo de diálogo por forma a quebrarem este ciclo de negatividade e pressão desgovernada que ainda não atingiu os seus objetivos e que tem prejudicado grandemente aquilo que sempre foi a sua bandeira: a paixão por ensinar?

Como sair deste jogo psicológico de que alguns especialistas referem que há intervenientes ativos deste movimento com outro tipo de ambições? O que pode fazer mais o ministro da Educação, João Costa, pelos professores?

O respeito ganha-se quando respeitamos os outros e nos damos ao respeito. É uma escada com vários degraus a percorrer e não uma qualquer agulha que se volta a pôr no lugar como quem assina um decreto e já está.

A luta dos professores é justa, as acções da estratégia não condizem com a classe, que se quer respeitada e dignificada. Não é com este tipo de persistência que se ganha respeito e se é respeitado, que se dignifica a profissão e a escola pública. Aqueles que efectivamente querem mudar o status quo, sejam professores ou Ministério da Educação, arranjem óculos novos para ver a situação e encontrem alternativas a esta situação de greves prolongadas que hipotecam mais um ano escolar dos alunos e não favorecem os professores.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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