Quem são as RSF, o grupo paramilitar que está a tentar tomar o poder no Sudão?

Paramilitares dizem ter conquistado o palácio presidencial, o aeroporto e a residência do chefe do Exército, em Cartum.

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O general Mohamed Hamdan Dagalo, mais conhecido como “Hemetti”, é o líder das RSF e vice-presidente do Conselho Soberano, que governa interinamente o Sudão Reuters/MOHAMED NURELDIN ABDALLAH

Cartum e outras cidades do Sudão acordaram este sábado ao som de explosões e trocas de tiros e há combates em curso entre as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) e o Exército sudanês, com o grupo paramilitar a anunciar ter tomado o palácio presidencial, o aeroporto, a residência do chefe do Exército, na capital, e uma base militar em Merowe.

As RSF são comandadas pelo general Mohamed Hamdan Dagalo, que ocupa actualmente o cargo de vice-presidente do Conselho Soberano, que governa o Sudão, e que é habitualmente referido como “Hemetti”.

Os especialistas naquele país africano estimam que o grupo paramilitar tenha cerca de 100 mil membros e diversas bases e destacamentos espalhados pelo país.

As RSF têm origem nas milícias janjaweed que lutaram num conflito na região no Darfur, nos anos 2000, tendo sido usadas pelo Governo do ditador Omar al-Bashir para ajudar o Exército a neutralizar uma rebelião.

Calcula-se que o conflito do Darfur tenha feito perto 300 mil mortos e cerca de 2,5 milhões de deslocados.

Os procuradores do Tribunal Penal Internacional acusaram vários membros do Governo e comandantes janjaweed de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Com o passar do tempo, as RSF cresceram em número de efectivos, que foram mobilizados, sobretudo, como guardas fronteiriços, para travar a imigração irregular para o Sudão.

Com a ajuda de Bashir, os interesses comerciais de Hemetti cresceram e a sua família aumentou os seus negócios nas áreas da extracção de ouro, da agro-pecuária e da construção de infra-estruturas.

No início de 2015, as RSF e o Exército do Sudão começaram a enviar tropas para combater na guerra do Iémen, ao lado das forças sauditas e dos Emirados, o que permitiu a Hemetti estabelecer relações com os poderes do Golfo.

Em 2017, foi aprovada uma lei a legitimar as RSF enquanto forças de seguranças independentes. Fontes militares dizem que a liderança do Exército sempre manifestações preocupação com o desenvolvimento das forças de Hemetti.

Dois anos depois, em Abril, as RSF participaram no golpe militar que derrubou Bashir. Mais tarde, Hemetti assinou um acordo de partilha de poder que o tornou vice-presidente do Conselho Soberano, liderado pelo chefe do Exército, o general Abdel Fattah al-Bourhan, actual líder de facto do Sudão.

Antes da assinatura desse acordo, em 2019, activistas e grupos de direitos humanos acusaram, no entanto, as RSF de envolvimento na morte de dezenas de manifestantes pró-democracia e denunciaram alguns dos seus soldados por violência tribal.

Hemetti retirou a imunidade a alguns deles, permitindo a sua acusação e, no ano passado, pediu desculpa pelos crimes cometidos pelo Estado contra a população sudanesa, ainda que não tenha elaborado muito sobre o tema.

Em Outubro de 2021, as RSF participaram num outro golpe que travou a transição para eleições. Hemetti tem dito, no entanto, que lamenta o golpe e manifestado o seu apoio a um novo acordo para restaurar um Governo totalmente civil.

Os militares sudaneses e os grupos pró-democracia têm exigido a integração das RSF nas Forças Armadas do país, mas as negociações sobre esta possibilidade têm sido uma das fontes da tensão com o Exército, o que contribuiu para adiar a assinatura de um acordo, que estava originalmente agendada para 1 de Abril, sobre um novo Governo e a transição para eleições.

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