Administração Biden admite expandir vigilância nas redes sociais para detectar fugas de informação

Divulgação de documentos confidenciais na plataforma Discord durou vários meses sem que a actividade tivesse sido detectada pelas autoridades.

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Os documentos começaram a ser partilhados na plataforma Discord em 2022 Reuters/DADO RUVIC

A mais recente fuga de informação no Pentágono sobre segredos militares de aliados e adversários dos Estados Unidos, cuja responsabilidade é atribuída a um jovem de 21 anos com acesso a uma rede de computadores interna do Departamento de Defesa, pode levar a Administração Biden a ordenar o alargamento da monitorização a sites de conversação e partilha na Internet.

A notícia, avançada pelo canal NBC News, não diz se o Discord — uma plataforma muito popular entre a comunidade de jogos online, e de onde partiu a fuga — já era alvo das operações de vigilância dos serviços de informação norte-americanos.

Segundo especialistas citados nos media dos EUA nos últimos dias, o Discord é frequentado por espiões de outros países — incluindo da Rússia — para identificarem utilizadores norte-americanos com acesso a documentos confidenciais, que depois são aliciados ou convencidos a partilhar informações secretas.

Ao mesmo tempo, o facto de as conversas nos grupos de plataformas como o Discord serem particulares impede os serviços de informação dos EUA de espiarem activamente os seus utilizadores.

“Se não sabemos se está a ser cometido um crime, não podemos simplesmente entrar à força no ‘clube’”, explica à NBC James Lewis, um antigo agente dos serviços de informação norte-americanos e actual investigador no Centro para os Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington D.C.

Nós não temos, nem queremos ter, um sistema em que o Governo dos Estados Unidos tem autorização para monitorizar grupos particulares em salas de conversa na Internet”, diz ao mesmo canal Glenn Gerstell, antigo advogado na Agência de Segurança Nacional dos EUA (a NSA, na sigla original).

Acesso a documentos

Os principais responsáveis da Administração Biden e do Pentágono exigem explicações aos serviços de informação sobre como foi possível que um jovem de 21 anos, alistado numa força reservista dos EUA, no Estado do Massachusetts, tivesse conseguido fotografar centenas de documentos confidenciais.

Jack Teixeira, de 21 anos, um norte-americano neto de um natural de São Miguel, nos Açores, terá começado a partilhar em Janeiro os documentos que extraiu do Pentágono, sem que as suas acções tivessem alertado os serviços de informação do país — uma situação que estará agora a motivar um debate na Administração Biden e no Pentágono sobre que mudanças devem ser feitas.

Ronald Marks, um antigo agente da CIA e professor na Universidade George Mason, na Virgínia, diz à NBC News que o debate em curso não é novo, e lembra que o actual sistema — que incentiva o acesso a documentos oficiais por parte de milhares de pessoas, incluindo por parte de funcionários de empresas particulares com contratos com o Pentágono — foi implantado na sequência dos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 nos EUA.

A grande revolução do 11 de Setembro foi a necessidade de se alargar a partilha de informações e de pistas. Havia a preocupação de que poderia voltar a escapar-nos alguma coisa, se mantivéssemos as informações confidenciais limitadas a um grupo muito restrito, diz Marks.

Isso significa que temos de recolher e guardar cada vez mais informação, o que significa que precisamos de cada vez mais pessoas envolvidas no processo.

A questão, agora, é decidir se o caminho a seguir é um regresso às restrições na partilha de informação, o que pode impedir que pessoas como Jack Teixeira tenham acesso a documentos confidenciais; ou se o Governo norte-americano irá tentar reforçar as suas capacidades de vigilância na Internet, com possíveis consequências no debate sobre a liberdade de expressão no país.

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