Portugal tem a maior reserva de lítio da Europa, como disse Costa?

António Costa disse que Portugal tem a oitava maior reserva de lítio do mundo (e a maior do espaço europeu) com mais de 60 mil toneladas.

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António Costa visitou a Coreia do Sul entre 11 e 12 de Abril LUSA/GONÇALO LOBO PINHEIRO

A frase

Portugal tem a maior reserva de lítio da Europa e a oitava maior do mundo, com mais de 60 mil toneladas de reservas.
António Costa, primeiro-ministro

O contexto

Em declarações ao jornal The Korea Times, na sequência da visita oficial de dois dias à Coreia do Sul (11 e 12 de Abril) com o objectivo de tentar atrair novos investimentos de multinacionais sul-coreanas para Portugal, António Costa defendeu que o nosso país “tem mais a oferecer do que apenas acesso ao mercado europeu de 500 milhões de pessoas, já que também possui um forte relacionamento com a comunidade global de língua portuguesa”. Nesse contexto, repetiu uma ideia que lhe pareceu poder interessar aos interlocutores: Portugal tem as maiores reservas de lítio da Europa.

Os factos

Em Portugal, existem oito regiões nas quais se verifica a mineralização de lítio: serra de Arga, Barroso-Alvão, Seixoso-Vieiros, Almendra-Barca de Alva, Massueime, Guarda (Seixo Amarelo-Gonçalo, Sabugal, Bendada e Mangualde), Argemela e Segura. De acordo com o relatório Lithium Statistics and Information (2023) da US Geological Survey, Portugal tem a oitava maior reserva de lítio a nível mundial, com 60.000 mil toneladas de reservas. As maiores reservas mundiais situam-se nos EUA, Argentina, Austrália, Canadá, Chile, China e Brasil.

O relatório Competitividade do Lítio Português, divulgado pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia em Setembro de 2020, avança também que Portugal é o “7.º maior produtor mundial de Lítio” e o ”país com as maiores reservas conhecidas” na União Europeia. Mas é preciso dizer que estas reservas são inferidas e não reservas reais — estatuto que só adquirem depois da prospecção, pesquisa, confirmação e exploração (depois disso, ainda há o tratamento industrial). A Europa importa 24% de toda a exploração mundial de lítio, sendo que 2% do conjunto das importações é português.

Nos próximos anos, a utilização de automóveis eléctricos em detrimento dos veículos com motores a combustão interna pode potenciar a procura por este recurso em países como Portugal. O responsável pelo negócio do lítio na Traxys, Martim Facada, considera que “Portugal poderá tornar-se uma parte crítica da cadeia de abastecimento de baterias de iões de lítio e na descarbonização mundial se alguns dos projectos em Portugal conseguirem produzir [produtos] químicos de lítio adequados ao consumo de baterias, mas isso está ainda por provar. Ainda estamos muito longe dessa realidade.” Em entrevista ao PÚBLICO, refere ainda que a produção global de lítio está “a crescer a dois dígitos por ano”.

De acordo com o Grupo de Trabalho “Lítio”​ (2017), também se tem verificado um aumento do interesse das empresas estrangeiras na produção nacional, pela quantidade de pedidos de direitos de prospecção e pesquisa de lítio no território português. Só em 2016 a Direcção-Geral de Energia e Geologia recebeu 30 pedidos.

Em resumo

É verdade que Portugal tem a oitava maior reserva de lítio do mundo e a maior da Europa. Os dados consultados pelo PÚBLICO também confirmam que o território português tem mais de 60 mil toneladas de reservas de lítio. Assim, a afirmação de António Costa é verdadeira. O que o primeiro-ministro não explicou na Coreia do Sul é que a extracção deste minério em território nacional não é consensual nas comunidades onde estão as reservas. No Barroso (Montalegre), por exemplo, a população contesta o projecto, o que pode implicar desafios burocráticos, tensões sociais e desgaste político.

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