Cartas ao director

Um apelo transmontano

Espartilhado entre um rio poderoso e agrestes montanhas de difícil transposição que o delimitam e vão mantendo algo isolado, existe, para cá do Marão, um pedaço do país chamado Trás-os-Montes, que grande parte dos portugueses desconhece. E, como se isso não bastasse, o próprio poder centralizado na capital, em vez de zelar equitativamente — um pouco que fosse — por todas as regiões, considera que o “Reino Maravilhoso” que Miguel Torga imortalizou de nada carece e que só serve para negócios esquisitos de venda de barragens que o ocupam mas não beneficiam, e ser espoliado de avultadas verbas comunitárias que para cá são destinadas por Bruxelas.

Entretanto, e numa altura em que há mais um comboio de dinheiro (PRR) vindo da UE que em Lisboa não sabem bem como descarregar e aplicar, avalia-se na entidade estatal decisora a possível inclusão no Plano Ferroviário Nacional de uma ferrovia de alta velocidade entre o Porto e Zamora que, a ser executada e numa visão futurista inteligente da associação regional que a apresentou, colocará toda a região Norte mais perto da Europa, com uma grande rapidez de escoamento de imensos produtos e vinda de turistas.

Nesse contexto, esperam os trasmontanos que o actual executivo repare tantas injustiças que nos têm sido feitas e que assuma a construção dessa linha férrea que aspiramos e de precisamos para um desenvolvimento generalizado e ao nosso alcance e que, da mesma forma, cumpra a antiga promessa de vários ministros de lançamento do IC26 entre Amarante e Mesão-Frio/Régua que os durienses reivindicam há décadas e tem sido demasiadas vezes adiado, para substituir o anacrónico caminho pombalino EN 101 que, embora asfaltado, nos faz movimentar para o litoral pouco melhor do que no século XVIII.

Celerino Dias, Sedielos

Costa ainda vai a tempo?

​Leitor de sempre deste jornal, escrevo pela primeira vez, nesta conjuntura trágica, para saudar as análises lúcidas de Manuel Carvalho, com particular destaque para a de 11 de Abril (Costa entre a dissolução e um teatro de sombras). Socialista convicto e apoiante de Costa desde a sua ascensão a secretário-geral, encontro-me hoje na angústia de ver o país neste estado e o partido a caminho do abismo. Não deixa de ser irónico que ainda há pouco houvesse quem estivesse preocupado com a deriva mexicana do regime e agora o que pode estar à vista é um fim italiano ou francês para o PS. Será que Costa ainda vai a tempo?

Carlos Serra, Lisboa

Será que o país aguenta?

Este Governo tem gerado as maiores trapalhadas, desde que o partido que o apoia alcançou, há pouco mais de um ano, uma maioria absoluta inesperada. A falta de tacto político gerou, logo de início, diversas questões censuráveis, designadamente centradas na crise de uma companhia aérea que, de bandeira, acabou por se tornar no seu verdadeiro calcanhar de Aquiles. É facto que houve más práticas, de extensão ainda longe de serem calculadas, mas percebe-se também que está a haver, pelo meio, enormes ajustes de conta políticos.

Na zanga de compadres e de comadres descobrem-se alegadas verdades, que o silêncio do Governo ameaça considerar como adquiridas, para gáudio de uma direita ululante desejosa de poder vir a livrar-se de quatro anos de oposição estéril. O ruído é enorme porque os decibéis das discussões são elevados e a conclusão a que se chega é a de um pântano de que principalmente a TAP surge como a maior vítima, com muito terreno movediço à mistura, pelo que faltará esclarecer. O cenário é negro e, no meio disto tudo, será que o país aguenta?

Eduardo Fidalgo, Linda-a-Velha

Liberdade para Assange

Fez quatro anos, a 11 de Abril, que Julian Assange está enclausurado na prisão de Belmarsh, um cárcere de alta segurança, em Londres, depois da sua captura, após um longo e policiado asilo na Embaixada do Equador. Não foi condenado. Aguarda um veredicto sobre o pedido de extradição para os EUA, acusado de “espionagem”. Lembremos que o criador da WikiLeaks teve a coragem de denunciar barbaridades ocorridas em várias guerras, em especial na invasão do Iraque, em 2003. Muitos jornais aproveitaram a informação e divulgaram-na. Neste mundo de pós-verdades, de notícias fake, o jornalista australiano e cidadão do mundo está sob a ameaça de ser deportado, para cumprir uma prisão perpétua. E continua em iminente risco de suicídio. A Comissão de Apoio a Julian Assange luta pela concessão de asilo político, em França, ao jornalista divulgador de verdades proibidas, que ferem os altos poderes. Cumpre-nos clamar pela sua liberdade.

José Manuel Jara, Lisboa

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