Grupo Wagner tentou comprar armas e equipamento a país da NATO

Documento secreto revela reunião de mercenários com “contactos turcos” em Fevereiro. Suspeito da fuga de informação identificado pela imprensa norte-americana esta quinta-feira.

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Arma utilizada por soldado russo onde se lê "República de Donetsk" Reuters/GLEB GARANICH

O grupo Wagner, organização paramilitar que luta ao lado das tropas russas na Ucrânia, tentou comprar armas e equipamento à Turquia, país que integra a NATO. A intenção do grupo é demonstrada num dos documentos dos serviços secretos norte-americanos revelados na Internet, naquela que já é a maior fuga de informação nos Estados Unidos desde as revelações do WikiLeaks.

O documento foi revelado em primeira mão pela CNN e dá conta de uma reunião entre membros do grupo Wagner e “contactos turcos” no início de Fevereiro. Não são especificados os nomes das pessoas que serviriam de ligação entre o grupo Wagner e a Turquia, mas é descrita a intenção do grupo paramilitar em adquirir “armas e equipamento” que podia depois ser usado na luta em território ucraniano e ainda, acredita Washington, no Mali, território em que o grupo mantém uma presença significativa.

Além desta pretensão, os serviços secretos norte-americanos dizem ainda no documento que o grupo Wagner se preparava para começar a recrutar novamente reclusos em prisões russas. Uma prática adoptada pela empresa militar privada desde, pelo menos, Setembro de 2022 – mês em que foi conhecido um vídeo que mostra o líder do grupo, Yevgeny Prigozhin, a convencer reclusos a juntar-se ao conflito.

A posição de neutralidade que a Turquia tenta assumir entre Rússia e Ucrânia – um “jogo duplo”, como o PÚBLICO descreveu em Fevereiro – é vista com preocupação pelo Ocidente. Em Dezembro, o alto responsável da política externa da EU, Josep Borell, enviou uma carta ao Parlamento Europeu em que apontava o relacionamento turco-russo como uma “causa de preocupação crescente”.

Os laços diplomáticos entre Recep Tayyip Erdogan e Vladimir Putin são públicos e, em algumas ocasiões, esta proximidade foi aproveitada em benefício do Ocidente. A mediação turca no acordo que permitiu retomar a exportação de cereais, colocando um ponto final a um bloqueio que se arrastava há mais de cinco meses, foi fundamental para um acordo entre Rússia e Ucrânia.

Neste caso do armamento que o grupo Wagner pretendia adquirir à Turquia, a CNN escreve que ainda não é claro se os “contactos turcos” pertencem ao Governo turco. Ou se, em última instância, o Governo teria conhecimento destas conversações com os mercenários.

Possível origem da fuga identificada

Foi lançada uma investigação criminal pelo Pentágono para que seja detectada a origem da fuga de informação. Fotografias destes documentos com material classificado começaram a ser partilhadas em plataformas usadas por fãs de videojogos – a plataforma de mensagens Discord foi a escolhida.

De acordo com o The Washington Post, que falou com membros do grupo onde eram feitas as partilhas, o responsável pela fuga de informação trabalha numa base norte-americana, anotando informações à mão que depois teclava em longas mensagens no grupo. Quando isso se tornou demasiado trabalho, “OG”, como era conhecido no Discord, começou a partilhar fotografias dos documentos. Durante meses os documentos partilhados por este utilizador estavam confinados a este pequeno círculo, até que um adolescente que fazia parte do grupo os decidiu partilhar com milhares de pessoas em outras páginas da rede Discord. Os documentos chegaram a milhares de pessoas e foram depois partilhados em vários outros grupos e redes.

O utilizador “OG”, responsável pela partilha dos documentos, está em parte incerta e tem, de acordo com o jovem menor de idade entrevistado pelo jornal norte-americano, comunicado com os membros do grupo nos últimos dias. Ciente da investigação e da operação montada pelas forças de segurança norte-americanas, o jovem diz que não revelará os detalhes sobre o paradeiro do responsável pela fuga de informação até que saiba que ele está em segurança fora do país.

Muitas das fotografias mostram documentos que foram dobrados, alimentando a especulação de que estes foram retirados de uma localização segura por alguém com acesso a este material sensível. Seria precisamente essa a situação do utilizador “OG”.

Esta quarta-feira, novos documentos apontavam a mobilização de forças especiais de – pelo menos – cinco países da NATO para território ucraniano após a invasão russa. De acordo com a contabilização revelada pela BBC, seguiram para a Ucrânia 50 elementos das forças especiais britânicas, 17 da Letónia, 15 da França, 14 dos Estados Unidos e um dos Países Baixos. As missões e localizações destes operacionais permanecem secretas.

Alerta para desinformação

A par da investigação criminal, o Departamento de Justiça norte-americano está a averiguar a veracidade dos documentos partilhados, alertando para a possibilidade da manipulação de algumas informações.

Esta terça-feira, o Ministério da Defesa britânico pediu cautela na análise das informações divulgadas, alegando que estas podem ter “o potencial de espalhar desinformação” e que existem muitas imprecisões no material que tem sido divulgado.

Já o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Rezniov, disse que os documentos contêm uma mistura de informação verdadeira e falsa, negando a presença de tropas da NATO na Ucrânia.

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