Após seis dias de silêncio, Coreia do Norte dispara “novo tipo” de míssil

Coreia do Sul e EUA estão a analisar detalhes do ensaio balístico e admitem que tenha envolvido um míssil intercontinental. Japão lançou alerta à população da ilha de Hokkaido.

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Anúncio televisivo de mais um teste balístico da Coreia do Norte, exibido numa estação de comboios de Seul, na Coreia do Sul Reuters/KIM HONG-JI

A Coreia do Norte realizou esta quinta-feira mais um teste balístico, que envolveu o disparo de um “novo tipo” de míssil para as águas do mar do Japão, denunciaram as autoridades sul-coreanas, japonesas e norte-americanas.

O ensaio levou o Governo do Japão a lançar um alerta à população de Hokkaido que, segundo um estudante que falou com a estação de televisão NHK, lançou o “pânico” entre aqueles que, como ele, se encontravam a bordo de um comboio na segunda maior ilha do país, localizada na região Norte.

A população de Hokkaido foi aconselhada a abrigar-se, os serviços de transportes públicos foram suspensos e as escolas atrasaram o horário de abertura, noticiou a emissora japonesa. Horas mais tarde, o ministro da Defesa, Yasukazu Hamada, revelou que, afinal, o míssil não tinha percorrido ou atingido território japonês.

De acordo com o Estado-Maior General das Forças Armadas da Coreia do Sul (EMGFA), o lançamento do projéctil norte-coreano foi feito a partir da região de Pyongyang. Este voou cerca de mil quilómetros antes de cair no mar, entre a península coreana e o Japão. Existe, no entanto, a dúvida sobre que tipo de míssil se trata e quais as suas verdadeiras capacidades.

Numa mensagem enviada aos jornalistas, citada pela agência sul-coreana Yonhap, o EMGFA diz que há “várias” hipóteses em cima da mesa, incluindo um novo modelo de míssil intercontinental (ICBM), com tecnologia de combustível sólido – mais fácil de disparar, armazenar e transportar.

“Os serviços de informação da Coreia do Sul e dos Estados Unidos estão a levar a cabo uma avaliação completa sobre as especificações detalhadas [do míssil]”, informou o Estado-Maior da Coreia do Sul.

No início de Fevereiro, numa parada militar por ocasião das celebrações do 75.º aniversário da fundação do Exército da Coreia do Norte, o regime de Kim Jong-un exibiu cerca de uma dúzia de mísseis ICBM.

O modelo norte-coreano mais avançado deste tipo de projéctil é o Hwasong-17 que, supostamente, tem capacidade para transportar ogivas nucleares e um alcance estimado de 13 mil quilómetros – e que foi disparado, pela última vez, em meados de Março.

O EMGFA descreveu o ensaio de Pyongyang como um “grave acto de provocação que não só põe em causa a paz e a estabilidade na península coreana, mas também na comunidade internacional” e afirmou que se trata de uma “clara violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU”.

Ainda que 2022 tenha sido um ano de realização de testes balísticos sem precedentes na Coreia do Norte – perto de 70 mísseis disparados, incluindo oito ICBM – e que os primeiros meses deste ano estejam a revelar a mesma cadência, o ensaio desta quinta-feira surge num contexto diferente.

Desde sexta-feira da semana passada que as autoridades norte-coreanas não respondem às múltiplas chamadas telefónicas de rotina efectuadas pelos seus vizinhos sul-coreanos, através do canal de comunicações oficial entre os dois Estados rivais.

Há vários meses que a Coreia do Sul, o Japão e os EUA temem que a Coreia do Norte se esteja a preparar para um teste nuclear – que seria o primeiro desde 2017 –, pelo que este silêncio do regime de Kim está a deixar Seul, Tóquio e Washington em estado de alerta máximo e a prepararem-se para todos os cenários.

As Forças Armadas norte-americanas e sul-coreanas têm realizado exercícios militares conjuntos cada vez mais regulares na região, pelo que a tensão na Ásia-Pacífico não poderia ser maior.

As comemorações do 111.º aniversário do nascimento de Kim Il-sung – fundador da República Popular Democrática da Coreia e avô de Kim Jong-un –, previstas para o próximo sábado, em Pyongyang, podem revelar mais pormenores sobre os últimos preparativos militares do regime comunista norte-coreano.

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