Novo software espião usado contra jornalistas, opositores e activistas

Empresa israelita usada em dez países. Tal como no caso da NSO, o programa não precisava de acção da pessoa a espiar para infectar o aparelho.

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Entrada de um edifício registado como propriedade da QuaDream em Ramat Gan, Israel REUTERS/Nir Elias

Um software espião de uma empresa israelita foi usado contra jornalistas, figuras da oposição ou organizações da sociedade civil em pelo menos dez países, segundo a Microsoft e o Citizen Lab, organização da Universidade de Toronto que fez parte da investigação do Pegasus, o programa da israelita NSO.

A Microsoft e o Citizen Lab divulgaram dois relatórios durante o dia de terça-feira sobre o software da empresa QuaDream.

A Microsoft disse que encontrou o software durante operações para recolher informação sobre adversários sofisticados. E o Citizen Lab, da Universidade de Toronto, disse ter identificado cinco vítimas, não divulgando as suas identidades, diz o Washington Post. Não era claro se a vigilância levou a consequências como prisão das vítimas.

O programa funcionava através do envio de convites para marcações em calendários para datas passadas, que por isso não apareciam a quem utilizava o aparelho.

Um folheto antigo da QuaDream levou a que fossem identificados clientes incluindo a Arábia Saudita, México e Singapura. A empresa pode ter conseguido evitar a autorização de venda necessária do Ministério de Defesa para este género de software, considerado uma arma, fazendo a venda através de uma empresa fora de Israel, provavelmente com sede em Chipre, ainda segundo o Post.

O Citizen Lab disse que depois da sua investigação conseguiu localizar servidores da empresa em vários países europeus – Bulgária, República Checa, Hungria, Roménia – e fora da Europa em Israel, Emirados Árabes Unidos, Uzbequistão, Singapura, México e Gana. Alguns destes países têm problemas de respeito de direitos humanos e foram acusados de usar software espião contra oposição pacífica no passado. O número de um jornalista mexicano assassinado em 2017, Cecilio Pineta Birto, foi encontrado numa lista de contactos que estariam a ser sujeitos a vigilância.

Esta tornava possível acesso a áudio, vídeo e ainda à geolocalização, no caso do Pegasus, o que acontecia também com o programa da QuaDream, chamado Reign. O Reign conseguia ainda, segundo o Guardian, gerar códigos de autenticação de dois passos no iPhone para retirar conteúdo da iCloud.

O Post sublinha que a indústria de software de espionagem é muito maior do que apenas a NSO, a sua empresa mais conhecida, e está profundamente implicada em relações com governos, mesmo que afirmem só utilizar estas ferramentas contra terroristas e criminalidade organizada.

A pesquisa “sublinha que, mesmo quando o NSO Group, o fabricante de uma das ciberarmas mais sofisticadas do mundo, enfrenta um escrutínio intenso e foi mesmo posto numa lista negra comercial pela administração Biden, o que provavelmente cortou o seu acesso a novos clientes, a ameaça de ferramentas semelhantes e muito sofisticadas continuam a proliferar”, escreve o jornal britânico The Guardian.

O Citizen Lab disse que encontrou pessoas associadas com a QuaDream incluíam um antigo responsável do Exército israelita e ainda antigos empregados da NSO.

Amy Hogan-Burney, responsável da Microsoft, disse à Reuters que grupos como o QuaDream “proliferam nas sombras” e que divulgar as suas acções era “essencial para pôr fim à sua actividade”.

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