Vai avançar Avenida Nun’Álvares, projectada há 70 anos: “É fazer cidade”
Avenida que ligará Praça do Império e Avenida da Boavista terá duas praças, zonas verdes e uma área para construção pública e privada. Operacionalização da unidade seguirá agora para discussão pública
É a “concretização de uma velha aspiração da cidade do Porto” e o executivo da Câmara do Porto congratulou-se, em peso, pelo seu avanço. A Avenida Nun’Alvares, referida em documentos oficiais desde 1916 e baptizada dessa forma há 70 anos, vai ser construída no âmbito de uma “intervenção urbanística de larga escala”, a “maior prevista do actual Plano Director Municipal do Porto”. Na reunião de câmara desta terça-feira, foi aprovada, por unanimidade, a delimitação de três unidades de execução que permitirão o avanço dessa operação e ainda a abertura do período de discussão pública por 20 dias úteis.
O modelo territorial sugerido pelo executivo de Rui Moreira foi apresentado pelo seu vereador do Urbanismo, Pedro Baganha, e prevê a criação de uma avenida com cerca de 1,5 quilómetros, que ligará a Praça do Império e a Avenida da Boavista, com vários “espaços de fruição” ao longo percurso, numa área total de 26 hectares.
Haverá duas praças, uma a norte e outra a meio da via, dois parques urbanos de proximidade, onde as linhas de água existentes (ribeira da Ervilha e de Nevogilde) serão aproveitadas, e um conjunto de arruamentos que perfaz uma extensão de 4,5 quilómetros.
“É mais do que a construção de uma nova avenida que vai resolver um problema de mobilidade, é a construção de uma parcela de território transformando-a em cidade”, apontou Pedro Baganha: “É fazer cidade numa zona que precisava dela há décadas.”
O território mantém o índice de construção previsto no PDM de 2006, o que significa que disponibiliza 176 mil metros quadrados de edificabilidade. Cerca de 17% pertencem à própria autarquia. O novo PDM prevê também que haja uma “continuidade das morfologias existentes”, ou seja, nas zonas de habitação de tipo unifamiliar haverá mais construções desse tipo e na zona onde há prédios, junto à Praça do Império, haverá também construção em altura.
"O início do fim"
O investimento estimado é de 30 milhões de euros e a autarquia prevê que a obra possa avançar entre o fim de 2024 e o início de 2025. Os prazos de construção variam entre dois e três anos, sendo por isso previsível que esta intervenção urbanística seja finalizada durante o ano de 2027.
“É o início do fim deste processo de mais de um século da construção desta avenida”, resumiu Pedro Baganha, elogiando um trabalho de “mais de dois anos” dos serviços municipais, que já elaboraram um desenho típico para a avenida e vias adjacentes.
Nesse desenho, apresentado pelo vereador ao hemiciclo, verifica-se que a nova avenida, com cerca de 22 metros de largura, terá duas faixas para automóveis, duas vias para transporte público, duas ciclovias e “passeios generosos”, de três a quatro metros de largura, onde será instalado mobiliário urbano.
“Esta via de ligação está prevista há décadas nos diversos planos que a cidade foi fazendo. É uma tarefa complicada, na medida em que há muitos proprietários e é uma área muito grande”, apontou. Para fintar esta dificuldade e desbloquear o histórico processo, o PDM de 2021 já sugeria um faseamento da intervenção. Dos 21 proprietários existentes na zona, 15 já assinaram acordos com a Câmara do Porto – o que corresponde a mais de 90% da área.
A oposição elogiou o avanço neste processo que remonta a 1916, quando a proposta de Melhoramentos da Cidade do Porto, de Cunha Moraes, referia a necessidade de criar uma “rápida e fácil comunicação com a Foz”, sugerindo, para esse fim, a criação de uma avenida “suficientemente larga para que eléctrico e automóveis possam circular a grandes velocidades” e onde os peões encontrem “refúgio, ao centro”. A avenida, propunha o documento com mais de um século, deveria ser “interrompida ou cortada de praças e revestida de arborização variada”.
O traçado da avenida foi sofrendo alterações desde esse primeiro momento em que foi pensado. Com Rui Rio como presidente da autarquia, a Nun’Álvares (que o autarca rebaptizou como D. Pedro IV, com uma placa que chegou a inaugurar) integrou um concurso público para a UOPG n.º 1, já a da avenida. O arquitecto Paulo Marques foi o vencedor do concurso e previa a integração do metro – discussão que acabaria por cair, já com Rui Moreira, quando a decisão de avançar com o metrobus foi tomada. O projecto não será agora aproveitado, esclareceu o gabinete de comunicação.