Ucrânia disposta a discutir futuro da Crimeia se contra-ofensiva for bem-sucedida

A Crimeia está sob ocupação russa desde Fevereiro de 2014, tendo sido anexada por Moscovo no mês seguinte. Ainda assim, Ucrânia não exclui libertação da península pelo exército.

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Militares russos durante uma cerimónia para assinalar o Dia do Defensor da Pátria em Sevastopol, Crimeia ALEXEY PAVLISHAK/Reuters

A Ucrânia revelou que está disposta a discutir o futuro da Crimeia com Moscovo se as tropas ucranianas chegarem à fronteira da península ocupada pela Rússia, o que o jornal Financial Times classificou como a "declaração mais explícita do interesse da Ucrânia nas negociações" de paz desde que estas foram interrompidas no ano passado, em Abril.

"Se conseguirmos alcançar os nossos objectivos estratégicos no campo de batalha e quando estivermos na fronteira administrativa com a Crimeia, estamos prontos a abrir [uma] página diplomática para discutir esta questão”, afirmou, numa entrevista ao Financial Times, publicada na quarta-feira, Andriy Sybiha, director-adjunto do gabinete do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, referindo-se à contra-ofensiva há muito planeada por Kiev. “Não significa que excluamos o caminho da libertação [da Crimeia] pelo nosso exército”, ressalvou.

Segundo o jornal britânico, as observações de Sybiha poderão servir para descansar os oficiais ocidentais que duvidam da capacidade da Ucrânia para recuperar a península da Crimeia e que receiam que qualquer tentativa de o fazer militarmente possa levar o Presidente russo, Vladimir Putin, a intensificar os ataques, possivelmente através do uso de armas nucleares.

Até ao momento, Volodymyr Zelensky tinha rejeitado as conversações de paz até que as forças russas abandonassem todo o território ucraniano, incluindo a Crimeia.

Sybiha, um diplomata veterano que tem estado ao lado de Zelensky em momentos cruciais da guerra, disse ainda que o Presidente ucraniano e a sua equipa têm agora falado especificamente da Crimeia, à medida que o exército da Ucrânia se aproxima do lançamento da sua contra-ofensiva para reconquistar território.

A Crimeia está sob ocupação russa desde Fevereiro de 2014, tendo sido anexada por Moscovo no mês seguinte, numa acção não reconhecida internacionalmente. As forças ucranianas intensificaram recentemente os seus ataques às instalações militares russas naquela província, incluindo ataques com drones terrestres e marítimos.

Kiev espera também que a sua próxima contra-ofensiva avance para sul, impedindo a passagem através de uma ponte terrestre que permite à Rússia abastecer as suas forças a partir da Crimeia.

Mykhailo Podolyak, assessor de Zelensky, disse à Radio Free Europe, na quarta-feira, que as forças ucranianas estariam na fronteira administrativa da Crimeia dentro de "cinco a sete meses".

Uma sondagem realizada em Fevereiro e Março pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, citada pelo Financial Times, revelou que 64% dos ucranianos querem que a Ucrânia tente recuperar todo o seu território, incluindo a Crimeia, "mesmo que haja o risco de uma diminuição do apoio ocidental e um risco de uma guerra prolongada".

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