Trump declara-se vítima de interferência eleitoral “a uma escala nunca vista”
Os EUA estão “a ir para o inferno”, gritou Trump, de 76 anos, afirmando estar a ser perseguido por adversários políticos que usam o sistema legal para o tentar impedir de regressar à Casa Branca.
Horas depois de surgir aparentemente contido dentro da sala do Tribunal Criminal de Manhattan onde ouviu as 34 acusações que enfrenta e se declarou inocente, Donald Trump deu largas à retórica incendiária que usa nas redes sociais. "O nosso país está a ir para o inferno", disse diante dos apoiantes reunidos no seu clube privado em Mar-a-Lago, em Palm Beach, Florida.
Atacando os seus novos alvos de eleição, o juiz do caso, Juan Merchan, e o procurador distrital Alvin Bragg, o ex-Presidente declarou-se vítima de interferência eleitoral "a uma escala nunca vista".
"Nunca pensei que algo assim pudesse acontecer na América", disse, no regresso da viagem a Nova Iorque. "O único crime que cometi foi o de defender destemidamente a nossa nação contra os que a querem destruir.”
Trump declarou-se inocente das 34 acusações de crimes de falsificação de registos comerciais para encobrir outros crimes, depois de ter sido acusado de subornar duas mulheres antes das eleições de 2016.
O caso foi desencadeado pelo processo do pagamento de 130 mil dólares (121 mil euros) pelo advogado de Trump, Michael Cohen, à ex-actriz de filmes pornográficos Stormy Daniels nas vésperas das presidenciais de 2016. O dinheiro servia para que Daniels não divulgasse publicamente o caso extraconjugal que diz ter mantido com o empresário, e que Trump nega até hoje.
Durante o discurso de 25 minutos, na terça-feira à noite, na Florida, Trump, candidato às eleições presidenciais de 2024, insistiu na tese que tem sido defendida pelos apoiantes: estas acusações visam apenas impedi-lo de regressar à Casa Branca. Este e outros casos sob investigação, afirmou, equivalem a uma tentativa de impedir a sua terceira candidatura à presidência, classificando o processo como uma "interferência eleitoral maciça a uma escala nunca vista".
"Tenho um juiz que odeia Trump, com uma mulher que odeia Trump e uma família cuja filha trabalhou com [a vice-Presidente democrata] Kamala Harris", vociferou, num ataque a Merchan (a sua filha, Loren, trabalha numa agência de estratégia digital que trabalhou com muitos democratas, incluindo Harris).
Na enumeração dos casos que enfrenta, Trump descreveu ainda um procurador que está a investigar as alegadas pressões sobre republicanos de Atlanta para interferir nos resultados de 2020 como "um democrata racista". Atacou ainda os processos do manuseamento de documentos secretos que foram levados para Mar-a-Lago quando saiu da Casa Branca, no início de 2021, assim como o inquérito à invasão do Capitólio dos EUA, a 6 de Janeiro de 2021.
Apesar de ter atacado os procuradores, Trump não apelou a novos protestos por parte dos seus apoiantes, nem avançou pormenores sobre a sua campanha eleitoral. Em tribunal, o juiz Merchand tinha advertido: "Por favor, evite fazer declarações que possam incitar à violência ou à agitação social."