Chega de dar razões ao Chega para ter razão

Num momento em que o resto da Europa impõe condições, Portugal transformou-se numa irresponsável “fábrica de legalizações” e num exportador de imigração ilegal para os países de Schengen.

Repentinamente o invisível Moedas manifestou-se com uma frase cheia de razão.

Eu já me tinha também manifestado aqui no PÚBLICO, de forma crítica sobre as capacidades de Moedas para dirigir uma cidade, portanto estou à vontade para reconhecer que Moedas, ao fazer um apelo para quantificar e regular, alertando para a “política” de portas abertas desenvolvida pela antiga "geringonça" e actual Governo e para a (ir)responsabilidade de António Costa na mesma, teve razão.

No seguimento, um editorial do PÚBLICO apelava ao debate. Só um colunista teve a coragem intelectual para o fazer: António Barreto.

Numa série magistral de sólida argumentação fundamentada em longa experiência de análise sociológica e política, António Barreto publicou uma série de artigos, alertando para as forças democráticas reconhecerem que o problema existe, assim como existem forças políticas que irão tirar grandes vantagens através do “voto de protesto” deste “limbo” intelectual e desta implícita proibição para pensar e reconhecer, de forma sensata, o problema.

O último grave acontecimento do ataque no Centro Ismaili, independentemente das conclusões da investigação, veio ilustrar uma precipitação neutralizadora de conclusões, equivalente a uma antecipação inibidora do pensamento e discernimento que vai muito além da prudência exigida neste casos.

Mais uma vez, só Maria João Marques teve a coragem intelectual para denunciar isto num artigo de Opinião, aqui no PÚBLICO.

Em 25 de Maio de 2021, eu já tinha publicado, quando da extinção do SEF, e da nova lei da Imigração, um artigo sobre o complexo problema, que tem duas vertentes: por um lado Portugal encontra-se num ciclo de emigração no qual centenas de milhares de jovens diplomados saíram do país; e em que os que ficaram, confrontados com uma vida sem perspectiva profissional e financeira são obrigados a permanecerem em casa dos pais num mercado de habitação absolutamente proibitivo.

Num Portugal com um grande problema demográfico estes jovens não podem constituir família e só sonham em partir.

Simultaneamente foram dadas vantagens fiscais a grupos crescentes de investidores Internacionais, ‘Expats’ e nómadas digitais, em profundo contraste com a pesada carga fiscal dos portugueses.

O efeito perverso no preço da habitação já não precisa de ser explicado.

A outra vertente do problema reside em leis da imigração que permitem a qualquer pessoa instalar-se em Portugal durante seis meses à procura de trabalho. Junto a isto através de acordos, é garantido de forma automática um visto aos países da CPLP.

Os novos bairros da lata começam a ressurgir nas periferias de Lisboa.

Num momento em que no resto da Europa os países impõem condições, exigem regulamentos, desenvolvem estratégias, Portugal transformou-se numa irresponsável “fábrica de legalizações” e exportador de imigração ilegal para os países de Schengen.

Um paraíso para as máfias da imigração, bem ilustrado nos grupos crescentes de jovens vindos da Índia, Nepal e Paquistão, bem visíveis no espaço público determinados a utilizar Portugal como trampolim para a Europa.

Se não começarmos a debater estes desafios integrando-os no espaço democrático corremos o risco de que este “limbo” frustrante se transforme num perigoso e fértil potencial irracional de voto de protesto.

Termino com a frase como concluía o meu artigo de 25 de Maio de 2021: ( …) Senão, podemos estar perante um outro e grave paradoxo: as mesmas forças políticas que vociferam indignações e rasgam continuamente as vestes pelos Direitos Humanos e a Justiça Social transformaram-se nos principais coveiros da democracia!

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