Palcos da semana: um Verão Azul com reflexos de Cesariny
Além do festival algarvio e de uma exposição dedicada ao artista, perfilam-se os concertos de Sarah McCoy, dos Teskey Brothers e do festival Walk & Dance.
Ao som de um Verão Azul
Época baixa no Algarve? Não quando se tem um Verão Azul a transbordar de propostas artísticas. Ana Borralho & João Galante, os directores artísticos do festival, alinharam mais de 20 para a 11.ª edição, em colaboração com Daniel Matos. A “sempre inesperada programação interdisciplinar”, guiada pela ânsia de “quebrar os limites de realidades normativas”, deixa-se conduzir este ano pelo “som na sua relação com o corpo e o espaço”, faz saber a organização.
Exemplos? A coreógrafa Tânia Carvalho em concerto com MadMud, Felicia Atkinson com as abstracções de Image Langage, a dupla Sh!t Theatre a convidar para Drink Rum with Expats, o manifesto de Piny Hip: A Pussy Point of View, o afrofuturismo de Xexa, Odete na pista de dança ou o documentário de Lisa Rovner Sisters with Transistors.
Feitas as contas, há quatro concertos, cinco performances, quatro sessões de cinema, uma exposição (a colectiva No, Future, No Cry), um momento de dança, um slam de poesia, duas conversas e quatro noites de clubbing.
Cesariny reflectido
O quarto onde recebia as visitas. Os seus livros. As suas peças. A casa, a vida e a obra de Mário Cesariny (1923-2006) são retratadas numa exposição que constitui uma “oportunidade de fortalecer o conhecimento do homem e do artista que fez história e estórias em Portugal”, sublinha a nota de imprensa.
Mário Cesariny: O Outro Lado do Reflexo mostra cerca de duas centenas de fotografias. Umas saíram da lente de Duarte Belo, outras de Eduardo Tomé ou Fernando Lemos. Muitas pertencem a amigos e autores desconhecidos. Todas revelam um outro lado do artista que marcou a cultura portuguesa pelo surrealismo e pela irreverência, permitindo “revisitar o seu espaço e as memórias de quem por lá passou”, na antecâmara da celebração do centenário do seu nascimento.
Para isso contribui também Autografia, o documentário de Miguel Gonçalves Mendes que é exibido na última sala. A curadoria é de Marlene Oliveira e Perfecto Cuadrado.
Voz à sacerdotisa
Depois de Blood Siren, o álbum que, em 2019, chamou a atenção para a sua “irresistível voz soul” (palavra de Les Inrockuptibles), a cantora e compositora norte-americana Sarah McCoy voltou este ano aos escaparates com High Priestess.
Editado em Janeiro, novamente com a dupla Chilly Gonzales e Renaud Letang na produção, introduz um toque electrónico num universo que até aqui se tinha mantido mais ao piano. Mas preserva o essencial da atracção por aquela voz profunda e algo assombrada, que já tentaram comparar a Bessie Smith, Nina Simone, Fiona Apple, Amy Winehouse, Adele ou Tom Waits.
Da Austrália, com blues-rock
Os australianos The Teskey Brothers andam pela Europa a saciar a sede provocada por uma prolongada ausência das digressões. E também a espicaçar a curiosidade dos fãs sobre o que trará o novo álbum, The Winding Way, com edição prevista para Junho.
Com eles vem o indie-rock de tons blues que já tinham registado em dois discos de estúdio – Half Mile Harvest (2017) e Run Home Slow (2019) – e outros tantos ao vivo, agora numa formação reduzida à dupla de irmãos fundadores.
A dança a uns passos
Dá para ir à pista com Xinobi, dar uns passos de Ciranda, embarcar rumo à cultura cabo-verdiana com Acácia Maior, cair no inclassificável caldeirão dos Unsafe Space Garden, presenciar a parceria de Moullinex com GPU Panic ou seguir ao ritmo interventivo de A Garota Não. E sem ter de andar muito.
No Walk & Dance, os palcos distribuem-se pelo centro de Freamunde, com estes nomes e muitos outros a conferirem ao cartaz o carimbo de “100% português”.