Cartas ao director

Um insólito absoluto

A 20 de Março enviei à Câmara de Lisboa o seguinte: "Fui hoje à Rua Salvador mostrar a placa de Pedro II regulando o tráfego de caleches e afins naquela rua, no século XVII, que se encontrava junto da porta 26. Para minha surpresa, não a encontrei. Há uma moldura de pedra vazia, que nem me parece a desta estrutura patrimonial, numa parede nova que não tem o número 26. A peça é uma relíquia de valor patrimonial incalculável, porque única em Portugal e, se não é única no mundo, será 'quase' única. Como não posso acreditar que tenha sido removida à revelia da câmara, ou roubada, pergunto: onde se encontra a placa em causa? Fico a aguardar uma resposta rápida e precisa da câmara."

No 30 de Março recebi a seguinte resposta da Direcção Municipal de Gestão Patrimonial: "Exmos. Senhores, informamos que o edifício indicado não é propriedade municipal. Toda a obra de reabilitação foi objecto de apreciação pelo Urbanismo e DGPC. Quanto à placa, só o proprietário se poderá pronunciar." Insólito ou crime?

M. M. Camilo Sequeira, Algés

O mundo às avessas

No Palácio dos Condes de Anadia existe uma interessante sala revestida de azulejos que retratam "O mundo às avessas”: a criança que toma conta da mãe doente, o burro que bate no dono que transporta a carga, etc., etc. Alguma realidade actual ultrapassa esta ficção: os ricos com roupas rasgadas, os adultos infantilizados e as crianças “poupadas” a “chocantes” expressões e imagens, enquanto são expostas à violência e à pornografia com que os media nos invadem diariamente.

As recentes medidas tomadas em alguns países, como a adulteração de diversos livros, a demissão de uma directora de escola por mostrar a estátua de David e muitas outras manifestações do “politicamente correcto”, seriam apenas ridículas se não fossem na realidade crimes contra a liberdade, inteligência e cultura. Por cá também vamos tendo a nossa dose de contradições: um Governo de maioria de esquerda, dita democrática, que não ouve os cidadãos e que afunda os direitos essenciais como a saúde, educação e habitação. Nunca como agora houve tanta procura de escolas privadas e de seguros de saúde, nem tão escassa habitação acessível: é a esquerda às avessas!

Isabel Ribeiro, Lisboa

Tantos contratos de arrendamento…

O PÚBLICO de quinta-feira noticiou em primeira página que nunca se celebraram tantos contratos de arrendamento em Portugal e que só em 2022 foram 90.000. Parecendo um fenómeno a estudar, devia ser também averiguado quantos destes “novos” contratos de arrendamento são renovações de contratos celebrados no ano passado, há dois anos, há três anos, and so on.

Jovens casais que já têm o posto de trabalho a prazo têm ainda de se sujeitar a contratos de arrendamento precários, ou seja, arrendam uma casa, pagam os 2, 3, 4, 5, 6 meses adiantados (e há quem peça um ano de rendas à cabeça!), não falham nenhuma mensalidade e ficam à mercê de quem lhes queira renovar, ou não, o arrendamento do tecto no ano seguinte. Como pode uma jovem dar-se ao luxo de engravidar se nem sabe se vai ter emprego no final do contrato precário e/ou se vai ter tecto no final do arrendamento anual que acabou de celebrar?

Como pode um jovem dar-se ao luxo de viver sozinho se o que ganha por mês não lhe dá para actualizar a enormidade dos aumentos das rendas das casas? Que país estamos a deixar aos netos? Que Governo é este que continua a negligenciar a juventude de uma forma assim tão perigosa? Quantos sem-abrigo mais são precisos para que António Costa deixe de se rir de coisas sérias?

Maria da Conceição Mendes, Canidelo

A estátua

Foi encomendada ao escultor Francisco Simões uma estátua aos professores. Será uma figura feminina, porque a maioria são mulheres, e segurará resmas de livros – explicou o artista. Nesta demanda de reconhecimento, sugiro uma estátua aos pais dos alunos. Vezes sem conta à porta das escolas com os filhos para ouvirem o sim ou não à entrada dos putos. Na nega, têm de faltar aos empregos ou pagar a amas – duas formas de perderem ainda mais o pouco dinheiro para sobreviverem (única excepção quando há serviços mínimos). Poderão ficar representados por três figuras: pai, mãe e filho a transportarem um cabaz cheio de nada. Uma estátua aos utentes dos transportes públicos. As vítimas das constantes greves. Após pagarem os passes sujeitam-se a serem esmagados nos poucos transportes que circulam – impostos pelo tribunal – e em alternativa andam de TVDE, a pé, para irem trabalhar. Em escultura, um homem com o passe pendurado ao pescoço, de tanga e a pé. Ainda um tributo em pedra aos milhares de doentes que vêem as cirurgias, consultas e tratamentos adiados por greves dos médicos e enfermeiros. Pode ser um homem velho (maioria dos doentes) em cadeira de rodas – último reduto para aguentar.

Aristides Teixeira, Almada

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