Portugal vs Espanha, qual é o melhor país? Há “batalha” na Lonely Planet

Qual dos dois países é a melhor parte da Península Ibérica? A influente casa dos guias de viagens publica choque de argumentos. Dois países, duas jornalistas, uma “luta dos séculos”. Vamos ao boxe.

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O destaque na Lonely Planet a um turístico Portugal vs Spain DR

"Portugal vs Spain" é o apelativo lançamento da Lonely Planet (LP) num artigo publicado esta semana pela mundialmente célebre editora. No texto, duas jornalistas de viagens cruzam argumentos a favor de um e outro país em matéria de interesse turístico, ou seja, de boa vida. A outra parte do título é como o apito do árbitro a dar início a uma "luta dos séculos", embora possa fazer torcer o nariz a alguns dos mais exigentes em matéria de geometria: "Qual destes países é a melhor metade da Ibéria?". Será uma metade metafórica, convenhamos, porque aqui o que interessa não é o tamanho do ringue mas os golpes de argumentos. Nas redes sociais da LP a questão é mais curta e fina: "Portugal vs Espanha: qual escolher? - pedimos a duas escritoras de viagens para persuadi-lo". Vamos ao boxe.

De um lado está Kerry Walker, que "não consegue parar de visitar" o território luso "uma e outra vez", com um gancho, sejamos jornalisticamente neutros, quase factual: "Portugal está perto da perfeição".

Do outro, Esme Fox, que vive em Barcelona e já escreveu muitos livros e artigos sobre Espanha, incluindo o novo guia da LP para o país. Estranhamente, declara: "Espanha é a vencedora".

Vamos então à "maior questão de todas: qual dos dois países da península escolher?"

Fox Espanha

Esme Fox chega artilhada de números, o que não é muito justo comparativamente, já que Portugal tem menos de um quinto da área (e população) da Espanha, muito perto da área da vizinha Andaluzia. Ele é o número de Bandeiras Azuis, o número de sítios Património da Humanidade, ou, evidentemente, o número e dimensões das comunidades autónomas, de línguas, de regiões vinícolas, ou o "número enorme de festivais loucos e únicos".

São muitos os destaques a atracções espanholas e Fox, enquanto admite que "Portugal vai mudando muito entre o Norte e o Sul", realça que do País Basco à Andaluzia não poderíamos ir por extremos mais opostos, porque cada região de Espanha "é totalmente única", em cultura, cozinha, linguagem. "Quem pode resistir às fachadas cobertas de azulejos de Portugal?", confessa Esme. Mas há sempre um mas: "Mas em matéria de arquitectura, a Espanha tem de tudo, dos desenhos coloridos e extravagantes de Gaudí em Barcelona ao revolucionário Guggenheim em Bilbau, aos desenhos futuristas da Cidade das Artes e Ciências em Valência e às históricas Casas Colgadas de Cuenca".

Até há uma vitória expressa para Portugal no texto pró-Espanha: quanto a pastéis de nata, a Espanha terá de deixar os portugueses levar a taça.

Em resumo: "É fácil entrar em lirismos sobre Espanha. Um par de dias aqui irá rapidamente mostrar por que razão este é um dos destinos de férias favoritos do mundo". Naturalmente, a tentativa de KO de Fox passa por: "A Espanha tem algo para encantar cada um e nunca se tem a mesma Espanha duas vezes". OK.

Karen Portugal

Por Portugal, a simpática Karen Walker começa bem: "Durante muitos anos, a Espanha tem roubado os holofotes a Portugal. Mas enquanto a sua irmã maior, de sangue quente, amante da festa e temperamental, há muito que se gaba da sua beleza, Portugal sempre sussurrou silenciosamente os seus encantos. Agora chegou finalmente o seu momento de brilhar". Bonito.

Ela visita o país desde os 11 anos (estreia: Algarve). As viagens de infância espoletaram uma "história de amor para toda a vida pelo país". Já percorreu boa parte de Portugal, da Costa Vicentina "cheia de surpresas", às cidades medievais e menires do Alentejo, "aldeias de granito perdidas do Minho", as "vinhas do Douro que são o céu na terra". Vá por mim, diz ela (assinamos por baixo): "A maior parte de Portugal está ainda espectacularmente por 'cantar'". Ah, fadista!

Contra as costas espanholas, Karen advoga as praias "ainda mais selvagens" de Portugal, os spots de surf, a Ericeira ou Peniche, a deslumbrante reserva natural das Berlengas, os tesouros da Costa Vicentina, o arrebatamento do Parque Natural da Arrábida, a verdadeira magia no cabo de São Vicente e seu pôr do Sol. Bem visto.

Bem podem as serras e vales de Espanha ser mais falados, o certo é que "Portugal é igualmente encantador". Queijos e porco preto, Alentejo, azeite, vinho, serra da Estrela, Gerês e o "arrebatador" Douro valem muitos pontos. E "culturalmente, Portugal bate tão forte quanto a Espanha", "a um ritmo de tirar o fôlego". Por outro lado, bem pode "a Espanha ter flamenco", que "Portugal expressa a sua alma com fado". Sem falar na Lisboa cosmopolita do século XXI e, sublinhe-se, no Porto, que "é tão excitante quanto a capital". Preciso e exacto.

Ao longo do texto, Walker, naturalmente, declara apaixonadamente o seu amor a Portugal, numa série de argumentos repletos de compreensível emoção. "Reserve Portugal em vez de Espanha e ficará viciado, juro. Vai ver que acabará por voltar cá num piscar de olhos (a expressão em inglês é mais apaixonada, in a heartbeat, com quem diz num bater de coração). KO.

Prognósticos só depois do jogo

O certo é que os países não se medem (só) aos palmos. E o conselho ideal, apesar de cada país ter tanto para ver e fazer e das distâncias, até seria: escolha os dois. Aliás, opção muito habitual para quem chega à península, particularmente em viagens de longo curso, em que Portugal e Espanha são "vendidos" frequentemente aos turistas num programa só. Não em vão, não têm faltado programas transfronteiriços. Já para não falar na facilidade com que se podem entrecruzar as terras da raia ao longo dos 1214 km de fronteira, até a pé para os grandes caminhantes.

Naturalmente, há um bom humor essencial a um artigo como este, de boxe turístico, que, claro, pode ter mais ou menos graça, particularmente por ser entre dois vizinhos com históricas batalhas, mesmo que hoje em dia já não vivam de costas viradas – apesar de algumas escaramuças, admitindo que, por exemplo, basta dizer água ou até e sempre Olivença. Por supuesto, as batalhas maiores que persistem são as dos clichés: quantas vezes já ouviu um turista perguntar se os portugueses ficam realmente ofendidos se nos falarem em espanhol?...

Bem vistas as coisas, o resultado deste Walker vs Fox até poderia ser, também por simpatia, declarado um empate: é mais um leve artigo LP de promoção para a Ibéria, de que ambos os países saem a ganhar. Pode ser lido na totalidade aqui. Só poderia ser melhor se fosse em portunhol.

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