Fabricante de munições europeu culpa TikTok por dificuldades de expansão

A Nammo acusa o TikTok de dificultar a sua expansão. A fabricante diz que um novo centro de dados para o TikTok está a consumir electricidade necessária para produzir mais munições para a Ucrânia.

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Modelo do novo centro de dados do TikTok Green Mountain

A Nammo, que é uma das maiores fabricantes de munições na Europa, queixa-se da sua expansão estar a ser barrada por "vídeos de gatos" da rede social TikTok. A empresa foi informada pela fornecedora de electricidade local de que não há reservas de energia para aumentar as instalações da sua fábrica na região de Innlandet, na Noruega, devido às necessidades de um novo centro de dados que está a ser construído para o TikTok.

“Estamos preocupados porque vemos que o nosso futuro crescimento é desafiado pelo armazenamento de vídeos de gatos”, criticou o presidente executivo da Nammo, Morten Brandtzæg, em declarações ao jornal britânico Financial Times. “Temos assistido a uma procura extraordinária para os nossos produtos que nunca vimos antes”, justificou. “Não vou excluir que não seja por pura coincidência que isto [o novo centro de dados] fique próximo de uma empresa de defesa."

Contactado pelo PÚBLICO, a equipa do TikTok preferiu não comentar directamente o tema. O presidente executivo da Green Mountain, a empresa norueguesa responsável pela construção do novo centro, diz que as críticas não fazem sentido.

"O nosso centro fica a uma hora de distância da fábrica da Nammo. E nós cumprimos o processo legal, pedindo à Elvia [fornecedora de electricidade local] autorização para usar electricidade no nosso centro. Foi-nos dada essa autorização. Até agora, a Nammo não preencheu nenhum pedido junto da Elvia", explicou ao PÚBLICO Svein Atle Hagaseth, que assinou um contrato com o TikTok para construir três edifícios de armazenamento de dados até 2025.

O projecto faz parte dos esforços do TikTok para aumentar a infra-estrutura física para começar a armazenar todos os dados dos utilizadores europeus. A iniciativa, que também é conhecida por Project Clover, implica um investimento de 1,2 mil milhões de euros por ano e inclui a monitorização dos dados que saem do espaço europeu por uma entidade independente. O objectivo é afastar preocupações de que Pequim tenha acesso a informação de clientes do TikTok na Europa.

O clima desempenha um factor fundamental na escolha da localização do novo centro. A temperatura média na Noruega ronda os três graus Celsius, tornando o país ideal para a construção do centro de dados do TikTok – as temperaturas baixas reduzem os custos com o arrefecimento dos servidores.

Em resposta a questões do PÚBLICO, a equipa da Elvia confirma que "reservou capacidade [da rede eléctrica] para a Green Mountain, que está prestes a construir um centro de dados em Innlandet, a região onde a Nammo também está localizada". Na Noruega, as empresas que precisem de utilizar grandes quantidades de electricidade devem apresentar uma proposta às fornecedoras de energia locais. "De acordo com os regulamentos actuais, a capacidade é atribuída com base no princípio 'primeiro a chegar'", lê-se na resposta. "A Elvia está disponível a aceitar potenciais novos critérios de priorização estabelecidos pelas autoridades."

O líder da Nammo acredita que os governos precisam urgentemente de estabelecer novas regras sobre as indústrias que devem receber acesso à energia. Brandtzæg prevê que a necessidade de aumentar o fabrico de munições desencadeie novos debates sobre que tipo de indústria deve ter acesso prioritário às redes eléctricas. “Não acho que [isto] seja um problema pontual. É uma tendência para o futuro", notou em declarações ao Financial Times.

A procura por munições subiu a pico desde o começo da guerra da Ucrânia, com o ministro da Defesa ucraniano a estimar que precisa de meio milhão de projécteis por mês.

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