Câmara de Grândola contra proposta de troço ferroviário Sines-Grândola Norte

Pelas mesmas razões expostas em 2006, a câmara de Grândola reitera a sua oposição ao ramal Sines-Grândola propondo como alternativa a requalificação do ramal de Sines-Ermidas Sado.

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Grândola rejeita proposta da Refer Rui Gaudencio

A Câmara de Grândola anunciou nesta segunda-feira, através de comunicado, a sua oposição ao novo ramal ferroviário que a Refer pretende implantar entre Sines/Relvas Verdes e Grândola Norte, alegando que os pressupostos para justificar a obra, proposta no novo Plano Ferroviário Nacional (PFN), são sensivelmente os mesmos que foram apresentados em 2006 e que mereceram reprovação da autarquia dado face aos impacto ambientais que teria.

A proposta apresentada naquele ano previa o abate entre “7000 a 10.000 sobreiros”, com o traçado do novo ramal ferroviário a “passar ao lado de aldeias e por cima de habitações.” Foi considerado pelos autarcas um investimento “muito pesado”, quando “já existia o ramal Sines/Ermidas Sado, que poderia ser adaptado à bitola europeia".

A proposta então apresentada pela Refer para a nova ferrovia de transporte de mercadorias, de bitola europeia, entre Sines e Badajoz, foi contestada pelos municípios de Santiago do Cacém e Grândola, associações públicas e privadas e foi alvo de protestos da população.

Decorridos 23 anos, a Câmara de Grândola, ao pronunciar-se sobre a ligação ferroviária Sines/Relvas Verdes e Grândola Norte diz que “mantém a posição anteriormente assumida”, apesar de reconhecer a sua importância.

A autarquia considera que a construção do novo troço, “não se afigura, de todo, como uma solução viável, do ponto de vista do território e do ambiente”. Os argumentos que apresentou no actual contexto, replicam os que expôs em 2006: O traçado proposto “implica o atravessamento e/ou aproximação a aglomerados habitacionais, bem como a destruição de montado, comprometendo o desenvolvimento das actividades agrícolas, florestais e económicas da região”.

Desta forma, e uma vez que a proposta agora em discussão “mantém os pressupostos da proposta de 2006 e, como tal, os mesmos problemas, não se entende por que razão e com que fundamentos, técnicos e ambientais, volta a ser equacionada uma solução com os mesmos impactos negativos no território”.

O comunicado da Câmara de Grândola volta a realçar a existência de alternativas que evitariam os impactos já referidos, salientando a solução mais evidente: o aproveitamento e requalificação do ramal de Sines-Ermidas.

A autarquia salienta ainda que a planta de condicionantes incluída na revisão do Plano Director Municipal de Grândola, aprovada em Dezembro de 2017, “apenas contempla uma faixa de protecção à linha ferroviária existente – Linha do Sul.”

O surgimento de um novo troço Sines-Grândola que “não tenha em consideração as preexistências, os compromissos assumidos e, sobretudo, os recursos, as potencialidades e as características singulares da região, pode comprometer, irremediavelmente, todo o desenvolvimento territorial e económico projectado e alcançado nos últimos anos”, conclui o município de Grândola.

Também a Comissão Política Distrital do PSD de Setúbal, numa nota divulgada no início de Março, e reportando-se ao troço ferroviário entre Sines/Relvas Verdes e Grândola Norte, diz não compreender “o motivo pelo qual se volta a insistir num traçado que coloca em perigo estes dois concelhos, no que se refere à economia, ao ambiente e à sustentabilidade locais”.

A solução preconizada pela Refer vai afectar “milhares de hectares de montado e os ecossistemas das lagoas de Santo André, da Sancha e Melides”. Apesar dos benefícios económicos que pode trazer, a ligação ferroviária acaba por prejudicar o “modo de vida de centenas de produtores da região, de populações que vivem das suas terras e de uma região com um enorme potencial", salientam os social-democratas de Setúbal.

Em sintonia com a alternativa proposta pela Câmara de Grândola, o PSD de Setúbal sugere que o Governo conclua a requalificação do ramal de Ermidas do Sado, que inclui as linhas Sines/Ermidas e Ermidas/Grândola. Este troço, acentuam, está “praticamente todo requalificado” e preparado para transporte de mercadorias.

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