A longa espera de um cão pelo dono

A amizade infinita entre um homem e um cão é retratada neste livro de forma terna e comovente. Uma história real.

Todos os dias, <i>Hachiko</i> ia buscar o professor Ueno à estação
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Todos os dias, Hachiko ia esperar o professor Ueno à estação de Shibuya Zuzanna Celej
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“O cão, branco como as cerejeiras ou os marmeleiros em flor, aninhou-se nos seus braços e soltou uma espécie de suspiro” Zuzanna Celej
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“É a festa de Kodomo, sabes? Celebram a força das crianças ao crescer. São carpas de rio que nadam contra a corrente, como fazem as crianças” Zuzanna Celej
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“A gueixa Sasaki foi ter com o chefe da estação, o senhor Sato, para lhe perguntar: — Aquele não é o cão do professor, que em paz descanse?” Zuzanna Celej
,Hachiko
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“Todos os dias às cinco horas, Hachiko punha-se na praça da estação de Shibuya e voltava para a toca quando o último passageiro abandonava a estação” Zuzunna Celej
,Hachiko. El gos que esperava
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“Quando a noite chegava e ele voltava para debaixo da velha carruagem, deitava-se entre as linhas do comboio, fechava os olhos e sonhava (...) com as borboletas e com o professor Eisaburo” Zuzunna Celej
,Livro
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Capa do livro Hachiko, o Cão Que Esperava, editado pela Fábula Zuzunna Celej

Quem tem ligação com animais domésticos rever-se-á neste livro que conta a história de um professor japonês da Universidade de Tóquio, Eisaburo Ueno, e do seu cão, Hachiko. Quem não tem acreditará que assim é.

Destinado à sua filha, o cachorro akita depressa se afeiçoou ao homem íntegro, disciplinado e rígido nos costumes. Também o professor se tornou grande companheiro e cúmplice de Hachiko. Já a sua esposa, a senhora Yaeko, demorou mais tempo a aceitá-lo na família.

Era assim o dia-a-dia dos dois amigos: “Desde a primeira segunda-feira do mês de Março, umas semanas depois da chegada de Hachiko, estabeleceu-se uma rotina muito especial. Logo que o professor de Agricultura da Todai se levantava, Hachiko ficava especado a olhar na cozinha enquanto ele punha o chá a ferver. Depois era a vez dele, e o dono deitava-lhe o pequeno-almoço numa tigela grande e vermelha. Quando acabava de comer, por volta das oito e meia, o cão acompanhava-o até à estação de Shibuya e, quando o professor desaparecia entre a multidão, ele voltava para casa e esperava até às cinco e um quarto.”

A essa hora, “como se tivesse um relógio suíço na cabeça”, o cão arranhava a porta para que a senhora Yaeko o deixasse sair. Então ia “disparado como um foguete para a estação”. Homem e cão voltavam juntos e alegres para casa.

Um dia, o professor não voltou. No entanto, Hachiko não desistiu de o esperar na estação. Fê-lo durante dez anos, até ao dia da sua morte.

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“Este ano verás a praia e tomarás banho no mar, tão certo como eu me chamar Eisaburo Ueno. Não achas? Não acreditas em mim?” Zuzanna Celej

Baseado numa história real já transformada em dois filmes, Hachiko Monogatari (japonês, 1987) e Hachiko. Amigo para Sempre (norte-americano, 2009, com Richard Gere), é aqui contada de forma terna e comovente. As descrições da passagem do tempo e da sucessão das estações são feitas de forma poética e envolvente.

O autor, Lluís Prats, é catalão e estudou História da Arte e Arqueologia na Universidade Autónoma de Barcelona e na Universidade de Girona. Foi professor do ensino básico e secundário, editor de livros de arte e produtor de cinema em Los Angeles (EUA). A edição original, catalã, recebeu o prémio literário Josep M. Folch i Torres e a edição italiana recebeu o Prémio Strega Ragazze e Ragazzi +6 na Feira do Livro de Bolonha, em 2018.

As ilustrações, aguarelas, ajudam a enviar o leitor para paisagens e ambientes culturais diferentes dos da nossa latitude. E há uma calma e serenidade reconfortante, mesmo nos momentos tristes da narrativa textual e visual.

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“Os quinteiros estavam tão cheios de saqué que só se aperceberam de que ele tinha fugido da jaula quando já ia a correr para voltar para Tóquio” Zuzanna Celej

Zuzanna Celej é polaca, mas viveu desde pequena em Barcelona e Girona. Licenciada em Fotografia e Gravura pela Universidade de Barcelona, estudou Ilustração na Escola de Arte e Desenho Llotja. Já expôs trabalhos em Espanha, França, Inglaterra, Polónia e Estados Unidos.

Além de ilustrar, orienta cursos de artes plásticas em diversos centros culturais e no seu estúdio. Também dinamiza oficinas de mestrado em escolas de arte.

No final do livro, conta-se que foi erigida uma estátua do akita com o lema “Hachiko: o cão fiel”. “O lugar é ponto de encontro da estação mais concorrida de Tóquio.” A 8 de Março, o dia de aniversário da sua morte, a população presta-lhe homenagem na Praça de Shibuya. “E a estátua enche-se de flores.” Bonito.

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