A longa espera de um cão pelo dono
A amizade infinita entre um homem e um cão é retratada neste livro de forma terna e comovente. Uma história real.
Quem tem ligação com animais domésticos rever-se-á neste livro que conta a história de um professor japonês da Universidade de Tóquio, Eisaburo Ueno, e do seu cão, Hachiko. Quem não tem acreditará que assim é.
Destinado à sua filha, o cachorro akita depressa se afeiçoou ao homem íntegro, disciplinado e rígido nos costumes. Também o professor se tornou grande companheiro e cúmplice de Hachiko. Já a sua esposa, a senhora Yaeko, demorou mais tempo a aceitá-lo na família.
Era assim o dia-a-dia dos dois amigos: “Desde a primeira segunda-feira do mês de Março, umas semanas depois da chegada de Hachiko, estabeleceu-se uma rotina muito especial. Logo que o professor de Agricultura da Todai se levantava, Hachiko ficava especado a olhar na cozinha enquanto ele punha o chá a ferver. Depois era a vez dele, e o dono deitava-lhe o pequeno-almoço numa tigela grande e vermelha. Quando acabava de comer, por volta das oito e meia, o cão acompanhava-o até à estação de Shibuya e, quando o professor desaparecia entre a multidão, ele voltava para casa e esperava até às cinco e um quarto.”
A essa hora, “como se tivesse um relógio suíço na cabeça”, o cão arranhava a porta para que a senhora Yaeko o deixasse sair. Então ia “disparado como um foguete para a estação”. Homem e cão voltavam juntos e alegres para casa.
Um dia, o professor não voltou. No entanto, Hachiko não desistiu de o esperar na estação. Fê-lo durante dez anos, até ao dia da sua morte.
Baseado numa história real já transformada em dois filmes, Hachiko Monogatari (japonês, 1987) e Hachiko. Amigo para Sempre (norte-americano, 2009, com Richard Gere), é aqui contada de forma terna e comovente. As descrições da passagem do tempo e da sucessão das estações são feitas de forma poética e envolvente.
O autor, Lluís Prats, é catalão e estudou História da Arte e Arqueologia na Universidade Autónoma de Barcelona e na Universidade de Girona. Foi professor do ensino básico e secundário, editor de livros de arte e produtor de cinema em Los Angeles (EUA). A edição original, catalã, recebeu o prémio literário Josep M. Folch i Torres e a edição italiana recebeu o Prémio Strega Ragazze e Ragazzi +6 na Feira do Livro de Bolonha, em 2018.
As ilustrações, aguarelas, ajudam a enviar o leitor para paisagens e ambientes culturais diferentes dos da nossa latitude. E há uma calma e serenidade reconfortante, mesmo nos momentos tristes da narrativa textual e visual.
Zuzanna Celej é polaca, mas viveu desde pequena em Barcelona e Girona. Licenciada em Fotografia e Gravura pela Universidade de Barcelona, estudou Ilustração na Escola de Arte e Desenho Llotja. Já expôs trabalhos em Espanha, França, Inglaterra, Polónia e Estados Unidos.
Além de ilustrar, orienta cursos de artes plásticas em diversos centros culturais e no seu estúdio. Também dinamiza oficinas de mestrado em escolas de arte.
No final do livro, conta-se que foi erigida uma estátua do akita com o lema “Hachiko: o cão fiel”. “O lugar é ponto de encontro da estação mais concorrida de Tóquio.” A 8 de Março, o dia de aniversário da sua morte, a população presta-lhe homenagem na Praça de Shibuya. “E a estátua enche-se de flores.” Bonito.