Um aluno é uma pessoa. E não há duas pessoas iguais

A escola, como está organizada, não permite que nada saia da norma. Os nossos jovens deveriam poder passar menos tempo dentro da escola, gerir os seus horários, decidir quando fazer exames.

A mudança do paradigma, as transformações sociais dos últimos vinte anos, a velocidade no acesso à informação e ao conhecimento, as novas formas de aprendizagem, ou melhor, de assimilação de informação que depois se pode transformar em conhecimento, nada disto se reflete, hoje, no sistema educativo.

O ensino continua parado no século XX, agarrado a um modelo escolástico que não tem em linha de conta os novos desafios e as novas ferramentas proporcionadas por esta sociedade da informação.

Sou crítico em relação ao chamado sistema de ensino tradicional, precisamente porque, na minha opinião, este não tem levado em consideração as necessidades individuais de cada pessoa que entra na escola. É claro que o ensino não pode nem deve ser individualizado e particularizado de tal forma a que cada aluno tenha uma escola para si. Mas, precisamente com a diversidade de ferramentas tecnológicas, com a capacidade que temos de acesso à informação, as escolas deveriam ter mais em conta cada um, em vez de olharem para o todo como se todos fossemos iguais. Não somos.

Um tronco comum de aprendizagem é, obviamente, necessário, mas a margem de progressão individual está, precisamente, na forma como formos capazes de potenciar as diferenças de cada pessoa entre si. Para além dos temas obrigatórios e de carácter geral – que, hoje, ocupam quase 95 por cento do tempo dos programas escolares –, o ensino deveria procurar alterar essa ordem de valores. Ou seja, dar mais espaço à criatividade, à aprendizagem individualizada, à prática e à experimentação. Um jovem com 12 ou 13 anos que quer ser piloto de aviões, astronauta ou astrofísico, por exemplo, deve ser encorajado, desde cedo, a procurar saber mais sobre estes temas; deveria poder ter contacto, desde cedo, com empresas e com os profissionais da área; deveria poder experimentar, estagiar, ver fazer. Só desta forma conseguimos aproximar o talento que existe dentro de cada um de nós e transformar esse talento, essa vontade e esse desejo num contributo futuro para a sociedade.

Por outro lado, a escola, como está organizada, não permite que nada saia da norma. É praticamente impossível conciliar outras atividades, sejam desportivas ou culturais, de recreio ou lazer. Os nossos jovens deveriam poder passar menos tempo dentro do edifício escola, gerir os seus próprios horários, decidir quando e onde podem fazer exames, provas e aferições. No fundo, o modelo que defendo é o da liberdade criativa, da autorresponsabilização e do compromisso.

Jovens felizes e realizados serão adultos mais preparados e motivados e vão ajudar a criar uma sociedade mais próspera, mais justa, com mais conhecimento e, por isso, mais feliz.

Neste Dia do Estudante, penso em cada um deles como uma pessoa, e não como um número, um dado estatístico, um corpo homogéneo. Porque não há duas pessoas iguais.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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