Herói do filme Hotel Ruanda vai ser libertado no sábado

Estados Unidos negociaram a comutação da pena de Paul Rusesabagina, que tinha sido condenado a 25 anos de prisão por terrorismo. Vai agora viver exilado nos EUA.

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Paul Rusesabagina quando foi detido em 2020 Clement Uwiringiyimana/REUTERS

Paul Rusesabagina, retratado como um herói em Hotel Ruanda, de Terry George, em que era interpretado por Don Cheadle, vai ser libertado da prisão neste sábado, depois da pena de 25 anos que estava a cumprir ter sido comutada, de acordo com um porta-voz do Governo ruandês.

O anúncio da sua libertação vem na sequência da intensa acção diplomática dos Estados Unidos, onde Rusesabagina tem autorização de residência permanente. O caso tornou tensas as históricas relações diplomáticas entre os dois países, afectadas igualmente pela alegada interferência de Kigali na desestabilização da vizinha República Democrática do Congo.

“Isto é o resultado do desejo partilhado de recompor a relação americano-ruandesa”, escreveu no Twitter Stephanie Nyombayire, porta-voz do Presidente ruandês, Paul Kagame.

Rusesabagagina foi sentenciado em Setembro de 2021, devido às suas ligações a uma organização que se opõe à liderança de Kagame. Tendo negado todas as acusações, recusou-se a participar no julgamento, que ele e os seus apoiantes apelidaram de farsa política.

Washington classificou-o como “detido injustamente”, em parte por aquilo a que consideraram a falta de garantias de um julgamento justo.

A libertação do antigo hoteleiro poderá ajudar a aliviar a tensão com os EUA, que tem pedido repetidamente ao Ruanda que deixe de apoiar o grupo armado M23 e retire os seus soldados da vizinha R.D. Congo. Kigali nega qualquer envolvimento no conflito congolês.

“Dou os meus parabéns aos representantes dos EUA e do Ruanda que trabalharam em conjunto para a libertação do sr. Rusesabagina e resolver as questões em volta do caso, incluindo as relacionadas com a violência judicial e política”, disse em comunicado Jim Risch, membro do Comité de Negócios Estrangeiros do Senado norte-americano.

Rusesabagina deverá ser libertado este sábado junto com 19 outros presos, cujas sentenças foram alvo de comutação por ordem presidencial depois de pedidos de clemência, afirmou à Reuters Yolande Makolo, porta-voz do Governo.

“De acordo com a lei ruandesa, a comutação de pena não extingue a pena subjacente”, explicou Makolo. “O Ruanda salienta o papel construtivo do Governo dos EUA na criação de condições para o diálogo neste assunto, assim como as facilidades concedidas pelo Estado do Qatar.”

Rusesabagina vai viajar primeiro para Doha, onde a família se lhe poderá juntar, e seguir depois para os EUA, informou o site noticioso Semafor.

“Se algum dos beneficiários da liberdade condicional voltar a cometer crimes da mesma natureza, a comutação da pena poderá ser revogada e terá de cumprir a pena de prisão até ao fim”, afirmou o Ministério da Justiça ruandês.

Arrependimento de Rusesabagina

Rusesabagina, conhecido crítico de Kagame, reconheceu ter tido um papel de liderança num grupo de oposição, o Movimento Ruandês para a Mudança Democrática (MRCD, na sigla em francês), mas negou qualquer responsabilidade pelos ataques levados a cabo no Ruanda pelo braço armado do grupo, as Forças de Libertação Nacional (FLN).

Os juízes do seu caso consideraram que as duas alas do grupo eram indissociáveis.

“Arrependo-me de não ter conseguido assegurar que os membros da coligação MRCD aderiam completamente aos princípios da não-violência”, escreveu Rusesabagina numa carta a Kagame datada de 14 de Outubro, divulgada pelo Ministério da Justiça.

Na carta, acrescentou que se fosse perdoado e libertado, passaria o resto dos seus dias nos EUA, “em reflexão silenciosa”.

Callixte Nsabimana, conhecido pelo pseudónimo de Sankara, um porta-voz das FLN que foi condenado por terrorismo, homicídio e rapto em 2919, está entre os libertados.

Numa carta escrita à mão para o Presidente ruandês, também dada a conhecer pelo Ministério da Justiça, pediu perdão a todos os ruandeses, especialmente aos afectados pelos ataques dos combatentes das FLN.

Reuters

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