Igreja “desvalorizou, encobriu e silenciou” abusos sexuais, reconhece arcebispo de Braga

Comissão diocesana de protecção de menores de Braga ouviu 28 vítimas desde 2019, segundo a arquidiocese, que se diz “aberta a todo tipo de reparações, incluindo indemnizações”.

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Comissão diocesana de Braga diz ter escutado 28 vítimas desde a sua criação, em 2019 Matilde Fieschi (arquivo)

O arcebispo-primaz de Braga, D. José Cordeiro, reconheceu esta quinta-feira, numa carta aos fiéis da arquidiocese, que na Igreja Católica portuguesa houve “desvalorização, encobrimentos ou silenciamentos” e “ingénuas reparações privadas na ilusão de compensar o dano sofrido pelas vítimas” de abusos sexuais às mãos de membros de clérigos.

“Reconhecemos que os abusos sexuais não foram tratados como prioridade, arrastando consigo erros, omissões e negligência”, escreve D. José Cordeiro, numa carta também assinada pelos bispos auxiliares D. Nuno Almeida e D. Delfim Gomes, para reconhecer ainda que, nas últimas semanas, “houve mensagens confusas e contraditórias e equívocos de comunicação sobre o modo de agir da Igreja perante este flagelo hediondo”.

Considerando que a crise aberta pela divulgação da dimensão dos abusos, que, segundo o relatório da comissão independente que foi chamada pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) a investigar o problema, atingiu pelo menos 4815 crianças nos últimos 72 anos, é uma oportunidade para “uma renovação e purificação da Igreja”, D. José Cordeiro sustenta que a Igreja não pode persistir na “conspiração silenciosa” que marcou a sua actuação face ao problema nas últimas décadas.

Comissão ouviu 28 vítimas

No caso da arquidiocese de Braga, D. José Cordeiro lembra que as vítimas terão um serviço de acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico à sua disposição, para o que está a ser criada umabolsa de técnicos e de acompanhantes espirituais. Na carta aos fiéis, D. José Cordeiro informa que, desde a sua criação em 2019, a Comissão de Protecção de Menores e Adultos vulneráveis da Arquidiocese de Braga escutou 28 pessoas que quiseram dar o seu testemunho dos abusos que sofreram às mãos de membros da Igreja. Ao PÚBLICO fonte da arquidiocese garantiu que esta está "aberta a todo tipo de reparações, incluindo indemnizações.

Além de se referir ao manual de boas práticas que a arquidiocese se propõe elaborar para garantir umambiente seguronas instituições tuteladas pela Igreja, o arcebispo dedica um parágrafo à necessidade de abrir caminhos de reconciliação e de acompanhamento terapêutico para os abusadores.

A Igreja, ao afastar preventivamente da actividade pastoral um clérigo acusado ou condenado por abusos sexuais de menores, não o pode abandonar, apela D. José Cordeiro, lembrando que o princípio jurídico da presunção de inocência até prova contrária é irrenunciável.

A lista com nomes de suspeitos que a comissão independente que foi coordenada por Pedro Strecht à arquidiocese de Braga continha oito nomes, três dos quais de padres já falecidos, levou ao afastamento cautelar de um sacerdote, pároco na freguesia de Calvos, em Guimarães.

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