A importância de sentir que a nossa mãe “está do nosso lado”

Ao contrário do que muitas vezes temos medo, o acolhimento incondicional [de uma mãe] não torna as filhas incapazes de ver a razão ou de conseguirem ver o problema por outros ângulos.

Foto
@DESIGNER.SANDRAF

Querida mãe,

Não há volta a dar… a relação entre mães e filhas é central nas nossas vidas. E, se é verdade que, por ser tão importante, é fácil sentirmos cada comentário mais negativo como uma facada nas costas, também o contrário acontece: o seu apoio, por mais emancipadas que supostamente estejamos, vale mais do que a maioria dos outros apoios.

Quando estamos desamparadas, irritadas, revoltadas ou tristes, sentir que a nossa mãe “está do nosso lado”, sem se importar muito com factos ou racionalidades, tem o poder de nos sarar o coração a uma velocidade que não se compara com nenhum outro “remédio”.

E sabe o que é ainda melhor? É que, ao contrário do que muitas vezes temos medo, esse acolhimento incondicional não torna as filhas incapazes de ver a razão ou de conseguirem ver o problema por outros ângulos. Não as torna insuportáveis de teimosia ou arrogância. Faz é com que se sintam mais fortes, mais seguras, mais capazes de enfrentar o resto do mundo, com a consciência de que, naturalmente, não receberão dele o mesmo apoio incondicional.

Por isso, avós e mães, quando for possível escolher entre apoiar ou questionar, optem pelo primeiro, mesmo que haja uma vozinha na vossa cabeça que sussurre que vos cabe educar, disciplinar, ensinar. Ou, pior, aperfeiçoar as vossas crias. Se nos virem em baixo e desanimadas, não nos lembrem, por favor, do que podíamos ter feito para evitar a situação em que nos encontramos, porque já estamos fartas de saber, e abracem-nos. Só isso.

Obrigada, mãe, por me ter abraçado tanto nesta semana difícil!


Querida Ana,

Já me fizeste chorar, o que até é bom porque liberta toxinas, e peço-te desculpa pelas milhares de vezes em que, em vez de me limitar a dar-te o conforto de que precisavas, te bombardeei com palpites e conselhos, sobrecarregando-te com a minha própria ansiedade.

A coisa boa de envelhecer é ter a possibilidade de aprender com os nossos filhos, na certeza de que ainda vamos muito a tempo de nos tornarmos melhores mães.

Obrigada pela oportunidade.


O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam.

Sugerir correcção
Comentar