A população de Campo Maior não esquece: “Obrigado, senhor Rui”

No dia dedicado ao pai e quando a Primavera já se fazia anunciar, partiu o empresário e comendador Rui Nabeiro quando estava prestes a comemorar o seu 92º aniversário, no dia 28 de Março.

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Rui Nabeiro faleceu a 19 de Março. Funeral foi esta terça-feira, em Campo Maior Nuno Ferreira Santos

A tarde de hoje concentrou milhares de pessoas para uma derradeira homenagem ao “homem de grande visão que ergueu uma multinacional numa terra do interior”. As palavras são do primeiro-ministro, António Costa, que esteve presente, juntamente com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no funeral de Rui Nabeiro, que foi a enterrar nesta terça-feira.

O seu desaparecimento “é uma grande tristeza para todos os que o conheceram”, salientou António Costa, descrevendo o comendador como uma pessoa encantadora e (porque não dizê-lo) um grande socialista”, que desde 1986 “converteu ao progresso a região da raia graças ao grupo Delta”.

O primeiro-ministro recordou um episódio do seu percurso político vivido em Bruxelas. “Perto da casa onde residia, tínhamos um estabelecimento comercial onde podíamos saborear o café Delta.”

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Nuno Ferreira Santos

Também a população de Campo Maior encontrou diferentes formas de expressar o seu reconhecimento pelo que “o homem dos Cafés Delta” realizou ao longo da sua vida na valorização social do concelho e na sua projecção internacional. “Obrigado, senhor Rui” foi uma das frases que os campo-maiorenses escolheram para demonstrar a sua gratidão, impondo a si próprios um profundo silêncio, que revelava a consternação pela perda de um “humanista, homem íntegro, justo e bom, que caminhou para o Céu no dia do pai”, salientou uma sua familiar.

No meio da multidão que seguia o acto litúrgico que decorria no interior da igreja matriz, Maria Martins apertava na mão direita um lenço branco. De olhos vermelhos marcados pela comoção, balbucia o que sente com a morte do comendador: "Morreu o pai de todos nós.”

A seu lado, outra mulher comentou em voz alta: “Os meus filhos continuam aqui (em Campo Maior) porque ele lhes deu trabalho”, e Cremilde Guerreiro recordava alguns episódios reveladores do altruísmo e da vontade de bem-fazer à população da terra que já fazem parte da memória colectiva dos naturais de Campo Maior.

António Costa procurou saber da sua satisfação quando foi inaugurada a auto-estrada que liga Lisboa à fronteira do Caia. "Sabe? Prefiro ir pelas estradas secundárias para falar com os meus clientes."

A preocupação pelos outros marcou a vida e as histórias que se contam de Rui Nabeiro. O arcebispo de Évora, Francisco Senra Coelho, diz ter aprendido com ele a “superar” as dificuldades “como as que temos na actualidade e olhar as pessoas como pessoas”.

Os seus familiares deixaram vincada a personalidade do seu patriarca, que sempre conseguiu aproximar os contrários. “Um filho desta terra de onde nunca se desgarrou para deixar uma marca de dimensão global.”

Disso mesmo dá conta a população. “Queríamos pensar que ele era eterno", confessa uma jovem que agora diz estar apreensiva em relação ao futuro com a morte de Rui Nabeiro.

“Nada do que hoje somos como comunidade existia sem a capacidade” demonstrada em múltiplas situações na sua longa vida de quase 92 anos, reforça uma sua familiar durante a missa celebrada na igreja matriz. “Não desistir nunca” era uma das expressões que repetia em momentos menos bons, recorda. “Um homem fora do vulgar”, observa um dos seus netos.

Nos logradouros (e Campo Maior tem muitos), nas varandas, à porta da rua ou nos passeios, os moradores da vila alentejana esperam o cortejo fúnebre, que recebe palmas constantes. São muitos os que recordam uma palavra de conforto de Rui Nabeiro e da sua disposição para ouvir das pessoas quais os seus problemas ou o que as afligia.

Ouvem-se as palmas sentidas e de agradecimento quando o cortejo fúnebre percorre as ruas. Até as muralhas da fortaleza de Campo Maior foram ocupadas pela população na despedida do homem que colocou a terra além-fronteiras. Famílias ciganas, imigrantes, cidadãos espanhóis e elementos do corpo diplomático de países de expressão portuguesa estiveram presentes na derradeira homenagem ao homem que mereceu assim a estima de uma comunidade agradecida.

Os seus familiares passam a herdar uma enorme responsabilidade empresarial e social.

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