O custo das dietas: afinal, é mais barato ser vegetariano?

Na realidade, em Portugal, os consumidores que seguem uma dieta 100% de origem vegetal são os que menos gastam em alimentação.

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Os consumidores que seguem uma dieta 100% de origem vegetal são os que menos gastam em alimentação Unsplash

Sabendo que uma dieta de base vegetal pode ser saudável e sustentável, levanta-se a questão sobre se também é financeiramente acessível a todas as pessoas, isto é, se é uma dieta amiga da carteira. Para responder a esta questão, podemos elaborar sobre duas possíveis análises, ambas amplamente utilizadas em estudos científicos.

Por um lado, podemos quantificar o custo de determinada dieta construindo um cabaz hipotético de alimentos que satisfaça os requisitos nutricionais de determinado consumidor. Somando todos os alimentos, conseguimos perceber o custo deste cabaz e, por consequência, o custo que a dieta representa. Porém, o problema deste tipo de análise é o facto de se tratar de um cabaz hipotético e que poderá não corresponder à realidade.

Por exemplo, para satisfazer os requisitos nutricionais de cálcio, associamos o consumo de produtos lácteos como mais eficazes. Numa dieta de origem vegetal, poderíamos substituir os produtos lácteos por outros de origem vegetal com as mesmas componentes nutricionais. Na realidade, existem várias outras formas de adquirir cálcio que não os produtos lácteos ou seus substitutos, que um consumidor seguindo uma dieta de origem vegetal pode eleger.

Neste sentido, este tipo de análise peca pela possibilidade de não representar a realidade, uma vez que o investigador tem o poder de escolher os alimentos que irão constituir o cabaz correspondente a determinada dieta. Desta forma, existe uma margem significativa para a manipulação dos dados e consequentemente dos resultados. Em última instância, qualquer investigador pode elaborar diferentes cabazes para a mesma dieta e obter valores monetários diferentes, resultando numa mesma dieta com diferentes custos.

Para ultrapassar esta problemática, podemos quantificar o custo de determinada dieta perguntando directamente aos consumidores quanto é que pagam por alimentação, tendo em conta a dieta que seguem. Esta análise é mais complexa porque depende da elaboração, aplicação e análise de questionários.

Perguntando directamente aos consumidores sobre os seus hábitos alimentares, temos uma ideia da realidade do custo das várias dietas, em vez de apenas uma ideia hipotética do que seria o desejável nutricionalmente. Seguindo esta análise, se o investigador garantir uma base de participantes fidedigna e representativa de um grupo específico de consumidores, por exemplo, um determinado país, os resultados da análise podem ser extrapolados para o consumidor médio de determinado grupo, isto é, os resultados vão representar as escolhas da consumidora média daquele grupo.

Para o nosso exemplo específico, conseguimos perceber quanto gasta um consumidor que segue determinada dieta, em termos médios. Esta opção de análise é mais fidedigna uma vez que consegue captar a realidade (se respeitar um conjunto de requerimentos estatísticos) de uma forma mais concreta.

Normalmente, o que é recomendável aplicar-se é uma primeira abordagem com a análise do cabaz hipotético como mote para uma possível investigação. Podemos concluir nesta primeira fase que, por exemplo, uma dieta 100% vegetal é mais cara que uma dieta que inclua alimentos de origem animal. A partir deste ponto, o investigador segue o estudo com objectivo de validar este primeiro resultado por via da análise por questionários.

Em Fevereiro, a Deco elaborou um cabaz hipotético de alimentos para quatro dietas considerando uma família portuguesa. Estes cabazes, que satisfazem os requisitos nutricionais, demonstraram que uma dieta 100% vegetal era a mais cara das quatro dietas analisadas. Por outro lado, o nosso estudo científico analisou uma amostra de participantes, representativa da população portuguesa e concluiu que a dieta de origem vegetal é a mais barata das cinco dietas analisadas.

Em termos hipotéticos, podemos conceber um cabaz de alimentos 100% vegetais nutricionalmente desejável que é mais caro que qualquer outro cabaz. Porém, na realidade, em Portugal, os consumidores que seguem uma dieta 100% de origem vegetal são os que menos gastam em alimentação.

É importante destacar as diferentes metodologias de análise para que o leitor perceba quais são as premissas em que o estudo assenta para que as suas ilações não distorcem a realidade. O que é exactamente o oposto do objectivo de qualquer estudo científico: compreender melhor a realidade.

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