Putin recebe o seu “querido amigo” Xi, de quem está “ligeiramente invejoso”

Os dois chefes de Estado encontraram-se em Moscovo e Putin disse estar preparado para discutir plano de paz chinês para a guerra na Ucrânia.

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Xi visitou a Rússia a convite de Putin pela primeira vez desde o início da invasão da Ucrânia Reuters/KREMLIN

O Presidente chinês, Xi Jinping, foi recebido pelo homólogo russo, Vladimir Putin, nesta segunda-feira em Moscovo para uma visita recheada de cortesia e vista como uma demonstração de unidade entre os dois países.

Na primeira ocasião em que se encontraram nesta visita, Putin e Xi trocaram algumas palavras de circunstância, em que ambos fizeram questão de mostrar o clima de confiança e proximidade entre si. Os dois utilizaram a expressão “querido amigo” para se referirem um ao outro e elogiaram-se mutuamente, de acordo com a tradução da Reuters.

De forma pouco usual para um chefe de Estado chinês – habitualmente pouco dados a comentar questões de política interna de outros países –, Xi recordou que no próximo ano haverá eleições presidenciais na Rússia e manifestou apoio a Putin. “Graças à sua liderança forte, a Rússia fez progressos significativos para alcançar a prosperidade nos últimos anos. Tenho a certeza de que o povo russo vai continuar a dar-lhe o seu apoio firme”, afirmou o Presidente chinês.

Por seu turno, Putin confessou estar “ligeiramente invejoso” do desenvolvimento acelerado da China nas últimas décadas. Como marca do ambiente de grande proximidade pessoal entre os dois líderes, ao contrário do que aconteceu na recepção a outros líderes mundiais, brindados com uma grande distância face ao Presidente russo, Putin e Xi sentaram-se lado a lado apenas separados por uma pequena mesa com um arranjo floral.

Na curta troca de comentários, houve tempo para que fosse abordado o esboço do plano de paz apresentado no mês passado pela China para que seja alcançada uma solução diplomática para a guerra na Ucrânia. “Como sabe, estamos sempre prontos a negociar e iremos discutir todas estas questões, incluindo as vossas sugestões”, afirmou Putin. Na altura, o documento foi criticado pelos aliados ocidentais de Kiev por não haver um enquadramento preciso da invasão, apenas definida por Pequim como "crise ucraniana", nem qualquer iniciativa concreta para uma retirada das tropas russas ou desocupação de território ucraniano.

Xi chegou nesta segunda-feira a Moscovo para uma visita de três dias – a primeira desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em Fevereiro do ano passado. Esta tarde, Xi e Putin têm um almoço informal e o dia seguinte é dedicado aos trabalhos oficiais da cimeira, para o qual é esperada uma conferência de imprensa conjunta, segundo a BBC.

A visita é fundamental para os objectivos específicos dos dois chefes de Estado. Para Putin, receber o Presidente chinês derruba a tese de que a invasão da Ucrânia deixou a Rússia isolada a nível internacional, para além de reforçar laços cada vez mais importantes do ponto de vista económico – a China é cada vez mais um mercado importante para as exportações de petróleo e gás natural russo, muito atingidas pelas sanções.

Xi – que no início do mês viu o Congresso Nacional do Povo formalizar o seu terceiro mandato presidencial com poderes reforçados – pretende apresentar a China como uma potência mundial capaz de mediar conflitos internacionais, mostrando o que considera ser a falência da hegemonia norte-americana.

Apesar de não estar confirmado oficialmente, mantém-se em cima da mesa a possibilidade de Xi poder vir a conversar com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, por telefone depois de deixar Moscovo.

Antes do início da visita, Xi e Putin escreveram colunas de opinião em jornais próximos dos regimes respectivos para antecipar o encontro. No seu artigo, o Presidente russo disse estar “grato” pela posição “equilibrada” da China face à guerra na Ucrânia. “Acolhemos a disponibilidade da China em ter um papel construtivo para resolver a crise”, escreveu Putin.

Na sua coluna, Xi apelou ao “pragmatismo” para que seja alcançada uma solução que ponha fim aos combates na Ucrânia e recordou o plano apresentado no mês passado, que descreveu como a representação, “tanto quanto possível, da unidade entre as visões das comunidades mundiais” sobre a guerra.

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