Esquerda sul-africana exige nas ruas demissão de Cyril Ramaphosa

Julius Malema, antigo líder da juventude do ANC, acusa o Presidente sul-africano de não conseguir travar a crise energética e de estar envolvido num caso de corrupção. Governo põe militares nas ruas.

Foto
O líder do protesto, Julius Malema (ao centro), foi expulso do ANC em 2012 Reuters/ALET PRETORIUS

Milhares de pessoas saíram às ruas nas principais cidades da África do Sul, nesta segunda-feira, para exigirem a demissão do Presidente do país, Cyril Ramaphosa, num protesto convocado pelo antigo líder da juventude partidária do histórico ANC, Julius Malema.

Segundo o ministro da Polícia, Bheki Cele, 87 pessoas foram detidas por terem bloqueado estradas com pneus em chamas, "numa tentativa de impedir os cidadãos de chegarem aos seus postos de trabalho".

O receio de que o protesto desta segunda-feira dê origem a uma onda de motins — à semelhança da que se verificou em 2021, da qual resultaram mais de 350 mortos — levou o Governo sul-africano a pôr quase 3500 militares nas ruas até meados de Abril.

O líder do protesto, Julius Malema, visto em tempos como um possível futuro Presidente da África do Sul, foi expulso do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla original) há mais de uma década e esteve envolvido em vários processos judiciais, incluindo uma acusação criminal, em 2012, por lavagem de dinheiro, fraude e extorsão.

Depois do corte com o partido, Malema fundou os Combatentes da Liberdade Económica (EFF, na sigla original), uma formação de extrema-esquerda que acusa o ANC de ter adulterado os objectivos da revolução que pôs fim ao apartheid e de ter abandonado as reivindicações da população negra sul-africana.

Manifestação "pacífica e vibrante"

Para o protesto desta segunda-feira, Malema desafiou os sul-africanos a fazerem greve, a encerrarem lojas e a pedirem nas ruas o afastamento de Ramaphosa. Eleito em 2018 com a promessa de combater a corrupção no país, o Presidente sul-africano viu a sua credibilidade afectada, nos últimos meses, por suspeitas de que ele próprio poderá estar envolvido num caso de corrupção.

"Hoje temos um encontro com as ruas e não vamos fugir", disse Malema, nesta segunda-feira, num discurso perante os seus apoiantes, em Pretória.

"Vamos apenas caminhar e expor as nossas preocupações", garantiu o líder do EFF, numa tentativa de afastar o receio de que o protesto contra Ramaphosa se transforme numa repetição dos violentos motins de 2021, motivados pelo anúncio de que o ex-Presidente sul-africano Jacob Zuma tinha sido considerado culpado de ter desrespeitado uma ordem do Tribunal Constitucional.

Malema disse também que as manifestações estavam a decorrer de forma "pacífica e vibrante" e garantiu que o protesto "vai terminar à meia-noite" desta segunda-feira.

Além das suspeitas de corrupção, Ramaphosa é acusado pela oposição de não ter conseguido renovar as infra-estruturas energéticas do país, o que tem levado a uma sucessão de cortes de energia que afectam de forma desproporcional a população mais pobre.

A maioria das detenções ocorreu na província de Gauteng, onde se localizam a maior cidade da África do Sul, Joanesburgo, e a capital administrativa do país, Pretória.

Segundo a agência Reuters, a polícia disparou granadas de atordoamento e de gás lacrimogéneo contra um pequeno grupo de manifestantes em Joanesburgo, na noite de domingo, e uma equipa da televisão pública sul-africana foi atacada na Cidade do Cabo.

Num comunicado emitido nesta segunda-feira, o Presidente da África do Sul avisou que a polícia e o Exército estão preparados "para garantir que toda a gente possa ir trabalhar e viajar por lazer ou por motivos profissionais".

"O direito à manifestação não dá a ninguém o direito a incomodar, a intimidar ou a ameaçar seja quem for. E também não dá a ninguém o direito de destruir propriedade e prejudicar as pessoas", disse Ramaphosa.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários