“Um povo que elege corruptos não é vítima. É cúmplice!”

O programa RedEscolas AntiCorrupção foi lançado no ano lectivo de 2021/2022. Em duas edições apenas passaram de “17 para 50 escolas e de um total de 1070 alunos envolvidos para 4100”.

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Escolas trabalham o tema da corrupção em programa criados para o efeito Rui Gaudencio

"Um povo que elege corruptos não é vítima. É cúmplice!" Esta foi uma das frases escolhidas por um aluno do Colégio do Sagrado Coração de Maria, em Lisboa, para um cartaz integrado num projecto de educação para a transparência e integridade realizado no âmbito da primeira edição do programa RedEscolas AntiCorrupção, lançado no ano lectivo 2021/22.

Já os estudantes da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Marco de Canavezes optaram por varrer os programas políticos dos diferentes partidos para perceberem o que defende cada um no âmbito do combate à corrupção. E fizeram uma apresentação aos colegas a explicar as medidas defendidas por cada partido.

A RedEscolas AntiCorrupção é uma iniciativa da associação cívica All4Integrity criada pelo professor universitário André Corrêa d’Almeida, que dá aulas na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. A coordenação da rede está nas mãos de Ângela Malheiro, vice-presidente da All4Integrity e professora de história há mais de 25 anos. "Estamos na segunda edição do programa e passámos de 17 para 50 escolas e de um total de 1070 alunos envolvidos para 4100", afirma a docente, que admite que não esperava um crescimento tão significativo do programa em apenas um ano.

"O nosso objectivo era fazer um programa de literacia anticorrupção, que chegue às escolas sem uma visão fatalista deste tema e sem estar centrado em casos mediáticos. Não queremos politizar o tema, mas falar sobre o que é corrupção, a cultura do favorzinho e da cunha", descreve Angela Malheiro. A iniciativa destina-se a alunos entre o 9.º e o 12.º ano e os projectos podem ser integrados em diversas disciplinas.

No site da All4Integrity há ferramentas interactivas, que facilitam a análise de dados públicos sobre integridade e corrupção, além de diversos materiais didácticos. Como o fundador desta associação é um português emigrado nos Estados Unidos houve uma preocupação em alargar o programa a todos os locais onde haja portugueses e se fale português. Daí que do rol de 50 escolas que estão actualmente a participar na iniciativa, três estejam fora de Portugal (uma na Irlanda do Norte, outra em Macau e outra em Moçambique). Para a próxima edição devem entrar escolas localizadas no Brasil, nos Estados Unidos e em Cabo Verde.

Em Outubro de 2021, quase de forma simultânea com o lançamento do programa da All4Integrity, o Conselho de Prevenção de Corrupção (CPC), criado em 2008, lançou a Rede de Escolas Contra a Corrupção, num formato de concurso. "Cada membro é responsável por criar páginas online dedicadas exclusivamente à publicação das evidências das acções que forem realizadas neste âmbito. Um júri nacional avalia as publicações e selecciona anualmente a escola que tenha desenvolvido uma intervenção mais abrangente e interessante, à qual o CPC atribui o prémio de 1500 euros e o seu parceiro Plano Nacional de Leitura 2027 o montante de 300 euros destinados à biblioteca escolar", lê-se no relatório de balanço da actividade dos 14 anos do conselho, um organismo que acabará em breve com a instalação definitiva do Mecanismo Nacional Anticorrupção (MENAC).

No final de 2021, esta rede contava com cerca de 70 escolas aderentes, das quais perto de três dezenas tinham já criado páginas online dedicadas à apresentação dos seus projectos e iniciativas em áreas relacionadas com a fraude, o suborno e a corrupção. O projecto, explica ao PÚBLICO o vice-presidente do MENAC, Olívio Amador, é para manter, havendo já constituído um júri que irá avaliar as diversas páginas online.

Este não foi o único projecto educativo do CPC que ao longo de nove anos trabalhou com cerca de 1300 escolas, públicas e privadas, e perto de 40 mil crianças e jovens. No final de 2012, lançou-se o concurso “Imagens contra a Corrupção” que contou com nove edições e, em 2017, o projecto “Mais Vale Prevenir”, focado na comunidade escolar.

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