Procurador que investiga Trump diz que não tolerará “tentativas de intimidação”

Mensagem de Donald Trump aos apoiantes dizendo que iria ser “detido na terça-feira” foi vista como “tendo semelhanças com 6 de Janeiro”.

Foto
Donald Trump assistiu no sábado a um campeonato de wrestling em Tulsa, Oklahoma Brett Rojo/Reuters

O procurador distrital de Manhattan, Alvin Bragg – de quem se espera em breve uma decisão de acusar formalmente o ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump – enviou, numa mensagem interna, um pedido ao seu staff para que não se deixem intimidar, depois de uma publicação de Trump dizendo que iria ser detido na terça-feira e pedindo apoio aos seus seguidores ter sido vista como tendo "semelhanças com 6 de Janeiro", segundo o New York Times, quando uma multidão invadiu o Capitólio para impedir a certificação dos resultados eleitorais que davam a derrota de Trump.

“Como acontece com todas as nossas investigações, continuaremos a aplicar a lei de modo igual e justo, e falaremos publicamente apenas quando isso seja apropriado”, declarou Bragg numa mensagem interna, a que o Politico teve acesso.

“Não iremos tolerar tentativas de intimidação”, escreveu ainda o procurador na mensagem, “nem ameaças ao estado de Direito em Nova Iorque.” Em concreto, “os nossos parceiros das forças de segurança irão assegurar-se de que qualquer ameaça específica ou credível contra a procuradoria vão ser cabalmente investigadas e de que há medidas em vigor para que todos os 1600 [trabalhadores do gabinete do procurador distrital] tenham um ambiente de trabalho seguro”.

O procurador não referiu qualquer caso individual, mas a mensagem de Trump na sua rede social sobre um potencial plano para o deter foi visto como uma tentativa de incentivar a acções dos seus apoiantes, levando a comparações com o que fez com a multidão que levou a cabo a invasão do Capitólio, em Washington, D.C., na noite da sua derrota eleitoral, 6 de Janeiro.

Se for acusado, Trump será o primeiro ex-presidente a responder por um crime em tribunal. O caso diz respeito a um pagamento feito a uma antiga actriz de filmes pornográficos conhecida como Stormy Daniels, para que esta não revelasse um encontro sexual de ambos.

O pagamento de 130 mil dólares (à volta de 120 mil euros) foi feito pelo então advogado pessoal de Trump, Michael Cohen, nos últimos dias da campanha presidencial de 2016. A acusação deverá incidir sobre o crime de utilização ilegal de verbas de campanha.

Trump disse que tinha recebido uma fuga de informação do gabinete do procurador distrital, sem apresentar qualquer prova, para a alegação da sua suposta detenção na terça-feira.

Uma das pessoas que notou semelhanças com 6 de Janeiro foi precisamente Michael Cohen, ouvido na MSNBC, citado pelo diário britânico The Guardian: “É muito semelhante ao grito de guerra que lançou mesmo antes da insurreição de 6 de Janeiro, especialmente o apelo a protesto.

O New York Times diz que a publicação de Trump na sua rede, Truth Social, que criou depois de ter sido suspenso do Twitter na sequência de "risco de incitamento" depois de 6 de Janeiro, já teve efeitos: o speaker Kevin McCarthy escreveu no Twitter que iria pedir uma investigação sobre se estavam a ser usados fundos federais para “acusações com motivação política”, no que o diário diz ser uma ameaça velada a Bragg.

O procurador distrital de Manhattan começou, no início do ano, a apresentar provas perante um grande júri, o que foi visto como precedendo uma acusação em breve. Há, entretanto, relatos de que terá ainda sido convocada mais uma testemunha a ser ouvida esta segunda-feira pelo grande júri. E nesse caso, uma acusação seria provavelmente feita só mais no final da semana.

Este é apenas um dos casos em que Trump arrisca acusação criminal num total de quatro, estando também na lista a invasão do Capitólio.

A possibilidade de uma acusação a Trump por causa deste caso está a levar a simpatia da parte de muitos republicanos além dos seus apoiantes, disse entretanto o governador do New Hampshire, Chris Sununu, ao programa State of The Union na CNN, citado pela agência Reuters.

Sununu, que é considerado relativamente moderado no Partido Republicano, está a considerar concorrer à nomeação do partido para candidato à presidência. Trump já disse que irá concorrer.

O governador republicano disse que em conversas com pessoas que não eram “grandes apoiantes de Trump” mas que todas tinham dito que “sentiam que ele estava a ser atacado injustamente”. O caso “está a levar a uma onda de simpatia para com o antigo Presidente”, declarou.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários