Cartas ao director

Cega obediência

Afirma o Almirante Gouveia e Melo que na Marinha não serão tolerados actos de indisciplina, mas até onde chega essa intolerância? Onde estariam no dia seguinte Salgueiro Maia e os militares "indisciplinados" que tomaram o Quartel do Carmo há 49 anos se o golpe militar tivesse falhado? Teriam igualmente sido acusados de indisciplina, certamente, e severamente castigados. O que dirá o senhor Almirante da atitude do insubordinado cabo que, nesse 25 de Abril, se fechou no tanque recusando uma ordem directa de um superior para abrir fogo? Os militares do NRP Mondego merecem, no mínimo, o benefício da dúvida, e não uma condenação cega dos seus superiores.

Luís Silva, Lisboa

Os “olhos nos olhos” de Gouveia e Melo

Não, não foi de olhos nos olhos que Gouveia e Melo falou com os eventuais insurgentes da guarnição do Navio da República Portuguesa Mondego, em serviço nas ilhas. Não, não se fala olhos nos olhos montando circos mediáticos e pondo o dedo em riste usando a prerrogativa de não permitir contraditório; não, não se dialoga, olhos nos olhos, com homens e mulheres ainda que subordinados na cadeia de comando, vexando-os em pública plateia; não, não se comanda invectivando quem ainda não foi ouvido, também publicamente, dando à estampa a exibição do que parece ser apenas o usufruto do direito de mandar.

O que Gouveia e Melo fez anteontem é a revisitação do que assenta numa Non, ou a Vã Glória de Mandar que fez muitos de nós gelar de pasmo como os adeptos do Arsenal face ao golo de Pedro Gonçalves: a sério?!

Conceição Mendes, Canidelo

"Alunos vão chegar malpreparados à universidade"

No dia 14 de Março, o PÚBLICO publicou uma notícia intitulada “'Alunos vão chegar malpreparados à universidade', avisa sociedade de Matemática", onde refere que “a SPM (…) lamenta que as sociedades científicas de Matemática e Estatística não tenham sido ouvidas” na elaboração dos novos programas de Matemática para o ensino secundário". Sou o coordenador do Grupo de Trabalho de Matemática nomeado pelo Ministério da Educação e que elaborou a proposta de novos programas de Matemática para o ensino secundário (Matemática A, Matemática B, MACS e módulos de Matemática do Ensino Profissional).

O grupo de trabalho elaborou a proposta que esteve em discussão pública durante cerca de três meses, conduziu os debates públicos, ouviu sociedades científicas, associações de professores e outras entidades, reformulou a proposta que esteve em discussão pública e preparou a versão final que submeteu a homologação, tendo a mesma sido homologada pelo ministério em Janeiro.
Estou por isso em condições de desmentir categoricamente que "as sociedades científicas de Matemática e Estatística não tenham sido ouvidas”. A Sociedade Portuguesa de Matemática, a Sociedade Portuguesa de Estatística, a Sociedade Portuguesa de Física, a Associação de Professores de Matemática, a Associação de Professores de Física e Química, a Sociedade Portuguesa de Investigação em Educação Matemática foram todas ouvidas em reuniões convocadas expressamente para o efeito. Algumas dessas entidades também enviaram pareceres escritos e todas as discussões, todos os pareceres escritos, foram tidos em conta, assim como se analisaram com cuidado os pareceres individuais recebidos.

A versão final dos quatro programas de Matemática em causa, e que foi submetida para homologação, resulta de muitas alterações em função de todo o período de discussão pública, que envolveu tanto reuniões presenciais em vários pontos do país como reuniões em linha para maior acessibilidade.
Naturalmente que não existe uma visão unânime sobre o currículo de Matemática no ensino secundário. Mas a equipa, que elaborou as propostas acompanhou a discussão pública e concebeu a proposta final (constituída por dois matemáticos, uma estatística, dois educadores matemáticos e nove professores do ensino secundário, geral e profissional, de todo o país), está consciente e orgulhosa dos documentos produzidos e acredita que proporcionarão condições favoráveis a uma melhoria do ensino das aprendizagens de Matemática em Portugal, formando-se assim melhores cidadãos no nosso país.

Jaime Carvalho e Silva, Coimbra

Sugerir correcção
Comentar