Nova ferramenta mapeia espécies de Montesinho em risco de extinção

Universidade do Porto criou uma ferramenta que mapeia espécies em risco no Parque de Montesinho. Este sistema de alerta precoce vai permitir identificar alterações na qualidade dos habitats.

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O lobo-ibérico é uma das espécies inventariadas no mapa do Observatório da Biodiversidade de Montesinho Pedro Cunha/ARQUIVO

Cientistas da Universidade do Porto criaram uma ferramenta capaz de mapear as espécies em risco de extinção no Parque Natural de Montesinho, na região de Trás-os-Montes. Trata-se de um novo sistema de informação geográfica online (WebSIG) que promete funcionar como um alerta precoce, identificando alterações na qualidade dos habitat de todas as espécies registadas na área de protecção especial Montesinho/Nogueira, que integra a Rede Natura 2000.

“Estamos agora a determinar por métodos matemáticos quais são as preferências de cada espécie em termos de habitat. Na área da conservação, este trabalho é feito com frequência usando dados climáticos – dados de 1950 a 2000, por exemplo. Mas nós vamos analisar as preferências das espécies ao longo do tempo recorrendo a imagens de satélite, explica ao PÚBLICO Neftalí Sillero, investigador responsável por este projecto da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

A primeira etapa, que consistia em mapear a distribuição das espécies, já está concluída. Quem clicar hoje no mapa interactivo já pode perceber onde há ocorrências do lobo-ibérico, por exemplo. Para isso, basta seleccionar o grupo taxonómico (mamíferos, no caso), o género (Canis) e, por fim, a espécie (Canis lupus). Esta cartografia digital cobre não só mamíferos (42, no total), mas também 13 anfíbios, 20 répteis, 153 aves e 1058 plantas vasculares.

O próximo passo consiste em analisar as tendências dos habitat para cada espécie ao longo do tempo. “Usamos uma série de ferramentas matemáticas que vão relacionar os dados de distribuição das espécies com as imagens de satélite. Sabemos que algumas espécies ocorrem numa área específica, então vamos olhar para a qualidade dos habitat onde elas estão”, diz Neftalí Sillero, numa videochamada com o PÚBLICO.

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Distribuição do lobo-ibérico no Parque de Montesinho DR

No caso do lobo-ibérico, já se sabe que está a perder qualidade nalguns locais, mas está a ganhar noutros, como no vale do Rio Maçãs, exemplifica Neftalí Sillero, que trabalha como investigador principal do Centro de Investigação em Ciências Geo-Espaciais da FCUP​.

Neftalí Sillero espera ter a ferramenta concluída dentro de um ano. Para o efeito, a equipa está a usar a plataforma Google Earth Engine, que funciona como um “catálogo de imagens” que têm incorporadas ferramentas analíticas. Também recorre a dados do satélite Modis (Moderate-Resolution Imaging Spectroradiometer) da agência espacial norte-americana NASA.

“O Modis é um satélite que passa pelo mesmo local duas vezes por dia”, explica o investigador, sendo que as imagens sofrem uma série de correcções para atenuar o impacte das condições atmosféricas. Se estiver um dia de muita humidade, por exemplo, os dados têm de ser rectificados.

Observatório da Biodiversidade de Montesinho

Inserida no projecto do Observatório da Biodiversidade de Montesinho (MontObEO), a elaboração deste mapa permite a qualquer pessoa visualizar, analisar e interpretar dados de biodiversidade do Parque de Montesinho. A ferramenta pode ser útil para especialistas na área da conservação e do ambiente, uma vez que a informação disponibilizada vai permitir compreender relações, padrões e tendências.

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O mapa interactivo vai permitir a qualquer pessoa visualizar, analisar e interpretar dados de biodiversidade do Parque de Montesinho Rui Oliveira

“Vamos analisar as tendências e informar o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) quais são as espécies que têm pior estatuto de conservação, quais são as que têm tendências mais negativas, ou seja, as que estão a perder qualidade dos habitat ao longo do tempo. Vamos juntar todas as espécies num mapa que vai representar quais são as áreas que estão a perder mais qualidade dos habitat. O ICNF pode usar este mapa para maximizar o esforço de conservação”, diz o cientista.

Contactado pelo PÚBLICO, o ICNF afirmou ter “as melhores expectativas” em relação à ferramenta que está a ser desenvolvida pela Universidade do Porto. Desde o início, o instituto acompanhou o MontObEO – um projecto financiado em 250 mil euros pela Fundação Ciência e Tecnologia –, tendo partilhado com a equipa toda a informação relativa ao registo de espécies de fauna e flora.

“O modelo de análise desenvolvido pelo MontObEO servirá os propósitos de direccionar acções de conservação para parcelas do território do Parque Natural de Montesinho mais vulneráveis a alterações climáticas, de dirigir os esforços de conhecimento e monitorização de forma mais eficiente, e de avaliar o sucesso e impacto dos projectos de restauro de habitat que o ICNF promove”, refere o instituto numa nota enviada ao PÚBLICO.

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