Psicólogos e nutricionistas permitem “poupar dinheiro”. SNS vai contratar mais

As novas unidades locais de saúde, que juntam centros de saúde e hospitais, vão ter serviços de psicologia e de nutrição. E será mais fácil recrutar profissionais.

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Existem cerca de 1100 psicólogos no Serviço Nacional de Saúde Manuel Roberto

Se tudo correr bem e de forma célere, no próximo ano a população passará a ter um acesso mais facilitado a psicólogos e a nutricionistas nas unidades locais de saúde (ULS), que juntam os centros de saúde e hospitais públicos, e onde actualmente é preciso aguardar meses a fio para se conseguir uma consulta.

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) conta com cerca de 1100 psicólogos e pouco mais de 500 nutricionistas, o que é manifestamente insuficiente para dar uma resposta adequada num país em que um quinto da população tem problemas de saúde mental e dois terços têm excesso de peso ou obesidade. Basta ver que, no ano passado, foram feitas menos de 317 mil consultas de psicologia e 197 mil de nutrição no SNS, segundo o Portal da Transparência, que recentemente passou a disponibilizar estes dados. Todos reconhecem que é preciso recrutar mais psicólogos e nutricionistas, mas a contratação destes profissionais tem sido residual, burocrática e lenta.

O primeiro passo para aumentar o acesso a estes profissionais, facilitando a sua contratação, foi dado esta quinta-feira na sede da Direcção Executiva do Serviço Nacional de Saúde, com a apresentação, pelos bastonários da Ordem dos Psicólogos Portugueses e da Ordem dos Nutricionistas, de orientações para a criação de serviços integrados de psicologia e de nutrição nas unidades locais de saúde.

De uma forma discreta, a Direcção Executiva do SNS já começou o processo de multiplicação destas unidades, que integram e incluem no mesmo modelo de gestão os centros de saúde e os hospitais do mesmo concelho. Quando o organismo liderado por Fernando Araújo arrancou, no final do ano passado, havia apenas oito ULS e o modelo estava parado há mais de uma década, mas foi ressuscitado e está a ser rapidamente alargado.

Em fase adiantada de concretização há agora mais 12 ULS, nas regiões Norte, Centro, Alentejo e Lisboa e Vale do Tejo, e a partir de Abril arrancará “uma nova vaga”, anunciou o director executivo do SNS, Fernando Araújo.

As novas ULS serão diferentes das que já existem – a primeira das oito foi criada em Matosinhos em 1999 e a última em 2012 – e contarão, prevê-se, com estes serviços integrados de psicologia e nutrição. Fernando Araújo não tem dúvidas de que esta "reforma de integração de cuidados", apesar de pouco visível, “é uma das mais relevantes para o SNS”. Até porque a contratação de outros profissionais, que não apenas médicos e enfermeiros, será um passo determinante para se avançar na sempre prometida mas pouco praticada aposta na prevenção da doença.

Ter mais psicólogos e mais nutricionistas no SNS permitirá “poupar dinheiro”, enfatiza o director executivo, que deu o exemplo da potencial poupança com a redução do consumo de medicamentos que uma intervenção preventiva e atempada implicará, ao evitar que as pessoas fiquem doentes.

Também para convencer as administrações hospitalares desta mais-valia financeira, nos termos de referenciação dos contratos-programa para 2024, as consultas de psicologia e nutrição vão ser valorizadas, revelou. Pode parecer um pormenor, mas fará a diferença, porque até agora isto apenas está previsto para consultas médicas, explicou, frisando que os administradores hospitalares vão perceber que daqui resultará "a capacidade de gerar proveitos para as instituições", o que ajudará "a desbloquear" os processos de contratação. "Hoje é um dia simbólico do início de um caminho", rematou.

"Este modelo de organização de um serviço integrado numa ULS facilita a contratação de profissionais" e vai permitir "dar uma resposta adequada" às pessoas, evitando que andem perdidas" nas instituições do SNS, corrobora Fátima Fonseca, responsável na Direcção Executiva pela área dos cuidados de saúde primários e pelo processo de multiplicação de ULS em curso.

“Este é o primeiro passo para facilitar o acesso” porque "vem simplificar a contratação", acredita o bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Francisco Miranda Rodrigues, que lembra que as pessoas aguardam hoje no SNS “muitos meses por uma primeira consulta, e mais muitos meses por uma segunda consulta”.

Actualmente há pouco mais de 1100 psicólogos no SNS, 300 dos quais nos centros de saúde, enumera. “Há muita falta de profissionais”, mas foram necessários “quase cinco anos para contratar 40” no último concurso público, lamenta o bastonário, que espera ver "alguns resultados" das medidas agora anunciadas já no próximo ano.

Quanto aos nutricionistas, estes são “pouco mais de 500” no SNS, cerca de 400 nos hospitais e 150 nos centros de saúde, calcula a bastonária Alexandra Bento. “Era necessário duplicar este valor”, frisa, admitindo que o modelo agora apresentado de ULS “é mais facilitador em termos de contratação, com serviços organizados” e que terão "uma aposta forte na promoção da saúde”.

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