Credit Suisse derrapa em bolsa e arrasta banca europeia

Depois de o maior accionista do Credit Suisse ter afastado a possibilidade de injectar mais dinheiro na instituição, agravando receios quanto à sua solidez, a banca europeia está a derrapar em bolsa.

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Credit Suisse tocou novos mínimos históricos em bolsa Reuters/ARND WIEGMANN

A banca europeia está a registar perdas acentuadas em bolsa na sessão desta quarta-feira, ao ser contagiada pelo desempenho do Credit Suisse, que está a derrapar depois de o seu maior accionista ter recusado a possibilidade de injectar mais dinheiro no capital do banco suíço, um dos maiores da Europa. É mais um golpe para o sector, numa altura em que aumentam os receios quanto à solidez da banca e possíveis efeitos dominó, depois da falência do Silicon Valley Bank, nos Estados Unidos.

O movimento de derrocada em bolsa começou esta manhã, quando o Saudi National Bank (SNB), maior accionista do Credit Suisse, anunciou que não irá comprar mais acções do banco suíço, onde detém uma participação próxima de 9,88%. “Não podemos, porque ultrapassaríamos uma participação de 10%. É uma questão regulatória”, disse Ammar Al Khudairy, presidente do SNB, em entrevista à Reuters.

O responsável acrescentou, ainda, que o SNB está “satisfeito” com o plano de reestruturação apresentado recentemente pelo Credit Suisse e garante que vê a instituição suíça como “um banco muito forte”. Mas deixa de lado qualquer possibilidade de vir a injectar mais dinheiro. “Não creio que vão precisar de mais dinheiro. Se olharem para os rácios, o banco está bem. E opera sob um sistema regulatório forte, quer na Suíça, quer noutros países.”

Estas declarações são feitas depois de, no ano passado, o Credit Suisse ter anunciado que iria avançar com um plano de reestruturação profunda, numa altura em que enfrentava uma grave crise reputacional e financeira. Em causa, uma série de polémicas em que o banco se tem visto envolvido e que têm levado não só a uma desvalorização acentuada em bolsa, como à fuga de alguns dos maiores clientes.

É difícil recuar até ao momento exacto em que o cenário começou a agravar-se para o Credit Suisse, que há vários anos enfrenta, uns atrás dos outros, episódios que vão desde fraudes até à participação em offshores. Mas, mais recentemente, há dois grandes episódios a contribuir para a queda reputacional e a derrocada em bolsa do Credit Suisse: os casos Greensill e Archegos, instituições de gestão de grandes fortunas que faliram e geraram perdas de milhares de milhões para o banco suíço. Só com a Archegos, que faliu em 2021, o Credit Suisse perdeu em torno de cinco mil milhões de dólares.

Agora, o banco volta a estar no centro das preocupações do sector. Nesta quarta-feira, está a desvalorizar 28,75% em bolsa, a maior queda diária de sempre, e negoceia agora na casa dos 1,6 francos suíços por acção, um novo mínimo histórico. Perante estes movimentos, o regulador suíço já suspendeu a negociação do Credit Suisse por várias vezes esta manhã.

A queda do Credit Suisse vem agravar o nervosismo dos investidores, que, nos últimos dias, já têm reagido ao colapso do Silicon Valley Bank, um evento que os analistas temem que pode vir a alastrar-se para o restante sector, sobretudo no que diz respeito a bancos regionais ou de menor dimensão.

É neste cenário que a banca europeia regista fortes quedas em bolsa. Por esta altura, o Euro Stoxx Banks, índice accionista que reúne os maiores bancos cotados na Europa, está a desvalorizar mais de 8% e a tocar em mínimos de mais de dois meses. Por cá, o BCP desliza mais de 9% e negoceia na casa dos 19 cêntimos por acção, baixando da fasquia dos 20 cêntimos por acção pela primeira vez em mais de um mês.

Em sentido contrário, os activos considerados como de refúgio pelos investidores tornam-se mais apelativos, fazendo cair os juros das dívidas soberanas na zona euro. É o caso da dívida alemã, cujos juros no prazo a dez anos estão a cair mais de 20 pontos base, para 2,18%. Também em Portugal se verifica este movimento, com os juros da dívida a dez anos a recuarem mais de 25 pontos base e a fixarem-se em 3,1%.

Para já, não há ainda reacções oficiais a este comportamento, com reguladores e governos a manterem-se em silêncio. Mas, nos mercados, a tensão vai aumentado. “O maior accionista do banco suíço, o Saudi National Bank, desconsiderou qualquer injecção adicional de capital na instituição, alimentando receios de que o banco possa estar a passar por dificuldades, depois de ter anunciado deficiências graves no controlo interno das suas contas”, comentam os analistas do BCP, em nota emitida esta manhã.

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