Para os ler “antes de todos”, funcionário de uma editora roubou mais de mil manuscritos

Filippo Bernardini foi detido em Janeiro, mas só agora confessou o crime. Diz que nunca roubou os manuscritos com intenção de os publicar antes do tempo — só queria apreciá-los “antes de todos”.

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Numa carta enviada ao tribunal, Bernardini mostrou-se arrependido e diz não ter conseguido ler desde que foi detido Daria Nepriakhina/Unsplash,Daria Nepriakhina/Unsplash

Filippo Bernardini, um ex-funcionário de uma editora no Reino Unido, assumiu nesta segunda-feira ter roubado mais de mil manuscritos — de autores como Margaret Atwood, Sally Rooney ou Ian McEwan — para ser o primeiro a lê-los: “Queria mantê-los perto do meu peito e ser um dos primeiros a apreciá-los, antes de todos os outros, antes que chegassem às livrarias.”

O homem de 30 anos, que foi detido por agentes do FBI em Janeiro, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, declarou que nunca quis vender os livros nem publicá-los antes do tempo, escreve o The Guardian.

Para as fraudes, que já decorriam desde 2016, o antigo funcionário da editora Simon & Schuster criava diferentes endereços de email fazendo-se passar por agentes literários e editores, de forma a conseguir as pré-publicações. “Escrevia com o jargão e a linguagem que os meus ex-colegas usavam. Quando o [primeiro] pedido foi bem-sucedido, este comportamento tornou-se uma obsessão”, explicou.

Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, o jovem criou mais de 160 domínios na Internet, que incluíam pequenos erros ortográficos que poderiam ser facilmente confundidos com emails verdadeiros, como a substituição do “m” minúsculo por “rn”.

Bernardini​ reconheceu a gravidade do crime, mas alegou que, tal como os editores, também queria ter acesso aos manuscritos. Além disto, diz ter sentido uma “ligação especial e única com os autores” dos livros, ao ponto de quase se sentir o editor deles.

A advogada de defesa Jennifer Brown, por sua vez, acrescenta à lista de motivos o facto de o jovem ter sido uma criança solitária, que se refugiou nos livros durante a sua infância passada numa zona conservadora de Itália, e destaca que ter sido banido da indústria foi “particularmente doloroso” para o cliente.

O facto de os roubos não serem seguidos de um pedido de dinheiro e as obras nunca terem aparecido online sempre deixou as alegadas vítimas confusas.

Segundo o jornal The New York Observer, Bernardini​​, que está acusado de fraude e roubo de identidade, aceitou pagar 88 mil dólares (81 mil euros) de restituição. Além disto, pode ser condenado até 20 anos de prisão, mas o veredicto só será conhecido a 5 de Abril.

Numa carta enviada ao tribunal, Bernardini mostrou-se arrependido e diz não conseguir ler desde que foi detido, porque se lembra dos erros que cometeu.

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