Celeste Rodrigues faria 100 anos e há uma exposição a celebrar-lhe a vida e a obra

O centenário do nascimento de Celeste Rodrigues (1923-2018) é celebrado com uma exposição que é inaugurada no exacto dia do seu nascimento, esta terça-feira, às 19h, no Museu do Fado.

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Celeste Rodrigues, década de 1950 Colecção Celeste Rodrigues

Recordar a vida e o legado da fadista Celeste Rodrigues (1923-2018) é o objectivo da exposição que é inaugurada esta terça-feira no Museu do Fado, em Lisboa, às 19h, no exacto dia em que Celeste completaria 100 anos. A curadoria da exposição é do seu neto, Diogo Varela Silva, autor de uma fotobiografia a editar no mesmo dia, que inclui um código QR para acesso a dois temas inéditos: Se alguém me procurar (com letra de Ricardo Maria Louro e música de Pedro de Castro) e uma versão de A noite do meu bem, conhecidíssima canção brasileira de Dolores Duran. Para ambos, foram feitos videoclipes por Sebastião Varela, bisneto de Celeste, o primeiro já publicado no YouTube e o segundo com estreia marcada para o dia da inauguração. Nesta, vão actuar os músicos que habitualmente a acompanhavam: Gaspar Varela (seu bisneto) e Pedro de Castro, ambos na guitarra portuguesa, André Ramos na viola de fado e Francisco Gaspar na viola-baixo.

Apontada como “referência maior da história do Fado”, recordar a vida e legado de Celeste Rodrigues (que foi muito mais do que a irmã de Amália, como se escreveu por ocasião da sua morte) é, para o Museu do Fado, “celebrar uma complexa geometria temporal que acompanha mais de sete décadas de actividade artística e que ilumina boa parte da história do Fado dos séculos XX e XXI”, revisitando-se “o seu vastíssimo legado através da sua discografia, dos seus repertórios, troféus, galardões, adereços de actuação, periódicos, pinturas e filmes.”

“Acho que vai ser uma surpresa para as pessoas”, diz ao PÚBLICO Diogo Varela Silva. “Está muito bonita, com vídeos de filmes, inclusive partes que não foram usadas nos filmes do Bruno de Almeida e do Manuel Mozos. Acho que mostra, e ajuda a fazer ver, a importância que a Celeste teve no fado. E a carreira longa que ela teve, de mais de 70 anos. Ela foi, em grande parte, uma das renovadoras do género e conseguimos ver isso na exposição, onde está grande parte da discografia dela, muitas fotografias e é lançada, também, uma fotobiografia.”

Para Diogo, tudo isto “ajuda a ver o seu percurso, desde o Fundão até ao derradeiro concerto do Tivoli, mostrando também o que ela era como pessoa.” Os dois inéditos que agora se publicam têm poucos anos: “Foram gravados muito pouco tempo antes de ela falecer, aos 95 anos, e muito graças ao Pedro de Castro, que achava que fazia todo o sentido gravá-los naquela altura.”

No comunicado que anuncia a exposição reproduz-se, na íntegra e a terminar, um poema escrito por Celeste Rodrigues: “Sozinha de ilusões naveguei em barco parado no rio, despida de emoções atraquei no cais do meu vazio. Foram levadas pelo vento dos sonhos que outrora tive. Por isso canto no fado aquilo que minha alma vive. Ontem fui, hoje não sou, menos serei amanhã. Sinto que a minha sombra vai fugindo apressada. Está tão cansada de mim e eu dela estou cansada.” Diogo Varela Silva, que incluiu este poema no livro que agora se edita, diz-nos: “Ela escrevia, ela pintava… Escrevia coisas bonitas, mas tinha vergonha de as mostrar. Esse poema, ela nunca o cantou em público. Esse e mais outro que também está no livro.”

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As irmãs Celeste, Odete e Amália Rodrigues com os pais, Albertino Rodrigues e Lucinda da Piedade Rebordão, em 1958, no casamento de Odete (Detinha) Colecção Celeste Rodrigues

Sara Pereira, directora do Museu do Fado, diz por sua vez ao PÚBLICO que para o museu esta exposição “tem um significado muito importante”: “Falamos de uma figura muito relevante da história do fado, que deixou dezenas de temas inscritos no nosso imaginário e que foi também uma figura muito querida, muito próxima, não só das gerações de fado que se lhe seguiram, como também do próprio Museu do Fado.” E isso foi assinalado em várias ocasiões, diz: “Tivemos a oportunidade de a homenagear em vida em várias ocasiões, na EGEAC, no Cinema São Jorge, aqui no Museu do Fado, quando fez 90 anos, estreámos o documentário do Bruno de Almeida, estivemos também no São Luiz, mais tarde. Acompanhámos sempre a Celeste nos últimos anos e é um gosto enorme podermos prestar-lhe esta homenagem, com a edição de uma pequena fotobiografia onde lançamos também dois temas inéditos que ela gravou.”

Na exposição, acrescenta Sara, “estarão excertos dos filmes do Manuel Mozos, Xavier, e do Bruno de Almeida, Cabaret Maxime, teremos alguns retratos da Celeste, da autoria da Maluda, outra de Bertina Lopes, teremos alguns trajes de actuação, documentação, programas de concertos, discografias, muitas revistas e periódicos, para os quais prestou depoimentos. Estamos convencidos de que esta exposição e esta fotobiografia iluminam este percurso que foi tão importante e que acabou por ficar um pouco na sombra, embora a Celeste tenha estado sempre muito segura do seu caminho, muito serena, e era um ser humano extraordinário.”

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