Género: a osmose sexual dos portugueses

Ao contrário de outras línguas, como o alemão ou o finlandês, a distinção entre sexo e género deve prevalecer no português, língua que nos deve orgulhar, não cedendo a imaginações e ideologias.

Na minha vida profissional, submeti para publicação científica um número superior a cem artigos. Tratava-se, a maioria, de investigação básica ou clínica submetida a revistas estrangeiras, com factor de impacto, que tinham a língua inglesa como exclusiva. Usava a palavra “gender”, que na língua anglo-saxónica abarca em simultâneo género e sexo, na metodologia dos meus trabalhos, distinguindo sem ambiguidade o que era masculino e o que era feminino.

A língua portuguesa, uma das mais utilizadas à escala mundial, distingue em duas palavras diferentes sexo e género, sendo sexo a construção biológica e género a classificação sócio-cultural.

Contudo, e como é hábito em Portugal, a confusão, o “nevoeiro” e, sobretudo, a ideologia habitam uma elite que desliza nos partidos e na governança, pensando que a nação é de súbditos em rebanho e não de cidadãos.

Não tendo, felizmente, a maioria dos portugueses que escrever artigos científicos, sobretudo em português, foi crescendo a confusão entre sexo e género, obedecendo a pressões feministas tidas como discriminatórias para lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, intersexuais, queers e outros. Há ainda os que lutam pelo reconhecimento do género neutro, não se considerando homem nem mulher.

O género, sendo uma construção social, muda no espaço e no tempo, à boleia da “fragilidade“ feminina, mitificando preconceitos. Contudo, sobretudo nas ciências sociais e em algumas organizações, como a OMS, a destrinça entre sexo e género é óbvia, contrariando a progressiva osmose intercambial observada nas conversas e actos dos portugueses.

Ter relações sexuais na lua nova ou na lua cheia, o género, não modifica em nada a biologia de um homem ou mulher, o sexo. A confusão será sempre externa, porventura desinteressante. O artigo 13 da Constituição da República, onde se elenca a não discriminação, nomeadamente a possibilidade de o sexo provocar discriminação arbitrária, é o palco actual dos partidos de esquerda para que a “igualdade entre homem e mulher” seja substituída por “igualdade de género”. Contudo, se assim for, porque reclamam os mesmos a existência de cotas femininas em empresas e governos, salientando a distinção de sexo e não de género?

O sexo é um facto objectivo, pelo menos à nascença. O género, sendo uma construção sócio-cultural, é desfeito e refeito no belo prazer de cada um, multiplicando-se em arranjos e construções da imaginação humana.

Ao contrário de outras línguas, como o alemão ou o finlandês, a distinção entre sexo e género deve prevalecer no português, língua que nos deve orgulhar, não cedendo a imaginações e ideologias que esquecem a história de Portugal, o respeito que devemos aos que constam dessa história e foram, por isso mesmo, melhores que nós, como Fernando Pessoa que escreveu “a minha Pátria é a Língua Portuguesa”.

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