O piropo também é uma agressão – e Andrea cantou uma peça de ópera como lembrete

Andrea Conangla, artista portuguesa a viver na Alemanha, interpreta Quando m'en vo, enquanto mulheres partilham as suas experiências de assédio. 

"Como estás, miúda?", "Sorri", "Alguém está a reconhecer que és bonita", "Devias agradecer mais!" A sucessão de comentários vai caindo num vídeo projectado que mostra uma mulher a andar pela rua. Em frente a ele, Andrea Conangla, cantora de ópera portuguesa a viver na Alemanha, interpreta Quando m'en vo, da ópera La Bohème, enquanto várias mulheres partilham as suas próprias experiências de assédio no vestido que a artista usa. 

Lançado no Dia Internacional da Mulher, o vídeo relembra que o assédio na rua é também uma forma de violência. Na descrição do vídeo, Andrea desabafa: "A pesquisa para este projecto realçou a dicotomia agridoce que é viver numa realidade privilegiada: vivo numa cidade segura, é-me permitido ser artista e ter voz pelas causas em que acredito, sou independente, tenho acesso a educação, casa, comida e água. Mas ainda assim, todos os dias, eu e tantas outras mulheres sentimo-nos inseguras em várias situações, somos alvos na rua e no trabalho, somos vistas como menos valiosas do que os colegas homens, somos abusadas e negligenciadas."

Em 2019, o Ministério Público deduziu 112 acusações por importunação sexual (propostas de teor sexual através de piropos, actos exibicionistas e constrangimento) e instaurou 958 inquéritos. Nesse ano, o quinto em que a "lei do piropo" estava em vigor, o Ministério Público tinha aberto 4123 inquéritos, dos quais 476 terminaram em acusação.