Ritmo de subida dos juros pode voltar a aumentar, avisa Powell

Presidente da Reserva Federal revela receio de que a economia dos EUA continue sobreaquecida apesar das subidas já realizadas nas taxas de juro.

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Jerome Powell, presidente da Reserva Federal dos EUA Reuters/KEVIN LAMARQUE

O valor inesperadamente alto da inflação em Janeiro e a manutenção de um desempenho forte da economia podem obrigar a Reserva Federal norte-americana a voltar a aumentar o ritmo de subida das taxas de juro, fazendo-as chegar a um nível máximo maior do que até aqui previsto, avisou esta terça-feira o presidente da instituição.

Numa intervenção feita no Congresso dos EUA, Jerome Powell assinalou que “os mais recentes dados económicos saíram mais fortes do que o esperado”, afirmando que “tal sugere que o nível final das taxas de juro deverá ser mais alto do que aquilo que era antecipado”.

Esta foi a primeira vez que o presidente da Reserva Federal falou em público desde que foram conhecidos os dados da inflação e do desemprego de Janeiro, que revelaram que a economia norte-americana não deu, apesar da forte subida das taxas de juro posta em prática nos últimos meses, grandes sinais de arrefecimento.

Os preços em Janeiro subiram 0,5% (0,1% em Dezembro) e a taxa de inflação homóloga cifrou-se em 6,4%, ligeiramente abaixo dos 6,5% de Dezembro, mas acima dos 6,2% que eram em média projectados pelos analistas. No mercado de trabalho, foram criados mais 517 mil empregos, um número que também ficou claramente acima das expectativas.

Estes dois indicadores fazem com que, dentro da Reserva Federal, voltem a aumentar os receios de que a economia esteja sobreaquecida. O desempenho do mercado de trabalho, com níveis de desemprego bastante baixos, pode conduzir a que surjam pressões inflacionistas geradas pelos aumentos dos salários.

Desde Março do ano passado, a Fed já elevou a sua principal taxa de juro de referência em 4,5 pontos percentuais – a série de subidas mais rápida da sua história. Entre Junho e Novembro, a autoridade monetária dos EUA realizou quatro subidas consecutivas de 0,75 pontos. Em Dezembro, abrandou o ritmo de subida para 0,5 pontos e em Fevereiro para 0,25 pontos, numa altura em que eram mais claros os sinais de um recuo das pressões inflacionistas.

Aquilo que se esperava, para a reunião de 21 e 23 de Março, era, até agora, mais uma subida de 0,25 pontos, mas as declarações de Jerome Powell fazem com que a probabilidade de um aumento de 0,5 pontos seja agora mais elevada.

Além disso, o nível máximo a que se prevê que a Fed possa chegar também se arrisca a ser revisto em alta. As expectativas dos responsáveis da Reserva Federal eram, em média, de que as taxas de juro chegassem aos 5,125%.

A reacção dos mercados aos sinais dados pelo presidente da Fed foi, sem surpresa, de preocupação perante a expectativa de uma subida dos custos de financiamento suportados pelas famílias e as empresas nos EUA para níveis mais elevados. Os índices da bolsa de Nova Iorque caíram, as taxas de juro da dívida pública norte-americana subiram e o dólar ganhou terreno face ao euro.

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