Mosca-avatar ajuda a descobrir como células benignas se tornam cancerosas

Criada uma mosca-avatar que tem um gene humano que codifica uma molécula presente em grande quantidade em células não cancerosas e em células de cancro da mama. A ideia é ver como aparece o cancro.

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Glândulas salivares de mosca humanizada: a magenta vê-se a molécula caderina-P Carla S. Lopes/i3s

Equipa de cientistas do Porto produziu uma mosca-avatar para descobrir como é que as lesões mamárias benignas se tornam cancerosas, potenciando assim novas formas de intervenção precoce neste tipo de cancro.

Publicada na revista Disease Models & Mechanims, a investigação introduziu na mosca-da-fruta um gene humano envolvido no cancro da mama e identificou as moléculas-chave responsáveis pela progressão de lesões benignas para malignas, esclarece em comunicado o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), da Universidade do Porto.

Apesar de alguns tumores benignos nunca se tornarem malignos, outros podem transformar-se em células cancerosas, crescendo e espalhando-se para outras partes do corpo.

"Todas as mulheres diagnosticadas com lesões da mama não cancerosas recebem tratamento farmacológico com fortes efeitos secundários, porque actualmente os médicos não conseguem prever que tumores não cancerosos irão ou não progredir para uma doença maligna", destaca o i3S.

Existe "uma clara necessidade de definir novos testes capazes de identificar as mulheres que irão beneficiar do tratamento e excluir as que não necessitam de passar por tratamentos desnecessários e nocivos", acrescenta-se.

Foi com esse propósito que os investigadores criaram uma mosca-avatar que contém um gene humano que codifica a caderina-P, molécula que está presente em grande quantidade em células não cancerosas e células de cancro da mama.

O uso de moscas-avatares para descobrir como se desenvolve o cancro "tem a grande vantagem de ser mais barato e mais rápido do que fazer experiências similares em células humanas", explica a investigadora Florence Janody, citada no comunicado.

A imagem de capa da revista Disease Models & Mechanims é relativa a este trabalho de investigação da equipa do Porto.

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A capa da revista científica onde a investigação foi publicada

O papel de três moléculas

A equipa demonstrou agora que as células da mosca humanizada com a caderina-P se comportaram de forma semelhante às células da mama que sofrem o desenvolvimento de cancro e identificaram ainda que duas moléculas – a MRTF-A e a SRF – que, quando activadas pela caderina-P, convertem células não cancerosas em células de cancro.

"Concluímos que a presença de grandes quantidades da molécula caderina-P em células não cancerosos da mama leva à sua progressão para células de cancro através da estimulação das moléculas MRTF-A e SRF", acrescenta Florence Janody.

A primeira autora do estudo, Lídia Faria, destaca que a descoberta é "igualmente crucial ao nível da intervenção precoce": ao identificarem-se as moléculas que impulsionam a progressão do cancro, isso permite "agir atempadamente e prevenir a progressão", considera a investigadora, também citada no comunicado.

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Equipa que criou a mosca-avatar para estudar o desenvolvimento de cancro da mama I3s

"O facto de a presença das moléculas caderina-P, MRTF-A e SRF em tumores da mama não cancerosos poder prever a sua evolução para células cancerosas permitirá desenvolver novas abordagens para identificar mais eficazmente as mulheres com lesões pré-cancerosos que realmente irão beneficiar de intervenções terapêuticas mais invasivas", acrescenta-se no comunicado.

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