O futuro dos eternamente (in)experientes

O percurso a trilhar deve passar pela regulamentação de trabalho temporário, incluindo a criação de limites para a duração dos contratos e a garantia de salários justos e benefícios.

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A actual geração de jovens, grande parte das vezes, é rotulada como a geração mais qualificada de sempre. Mas será que este rótulo é correcto para uma geração que enfrenta tantos obstáculos aquando do seu ingresso no mercado de trabalho?

Podemos identificar dois problemas fundamentais no que diz respeito a esta matéria. Se no passado a grande patologia que assolava o mundo do trabalho era o desemprego, hoje esta patologia sofreu mutações que alteraram os seus contornos e, hoje, sem dúvida que a grande patologia que assola o mundo do trabalho para os jovens é a precariedade laboral, uma realidade que afecta milhões de trabalhadores jovens em todo o mundo, causando insegurança financeira, falta de perspectiva e dignidade.

Em primeiro lugar podemos identificar a necessidade de experiência aquando do ingresso no mercado de trabalho. Como é suposto jovens que acabam os seus estudos poderem ingressar com experiência no mundo do trabalho? Esta premissa parte de uma base argumentativa errónea que conduz cada vez mais à precariedade dos jovens. Das duas uma, ou os jovens acabam no desemprego ou então adquiriram experiência laboral através de estágios não remunerados que, certamente, conduz a um aumento da instabilidade no primeiro emprego dos mesmos.

Em segundo lugar podemos identificar a falta de contratos estáveis. Estamos a vivenciar um período em que as empresas partem do pressuposto que os jovens não querem empregos estáveis com condições fixas. Este princípio é errado e, segundo o estudo levado a cabo pelo Observatório das Desigualdades, em 2020, 20% dos jovens entre os 15 e 24 anos encontravam-se trabalhar a tempo parcial e, destes, 44% declararam estar em part-time por não ter encontrado um trabalho a full-time. Neste sentido podemos concluir que a solução encontrada dos contratos a termo não é suficiente e necessita de um maior cuidado e atenção. Os jovens querem estabilidade no emprego alicerçada em salários dignos e que permita a conciliação da vida profissional com a vida pessoal.

Podemos afirmar convictamente que a precariedade laboral dos jovens em Portugal é um problema que afecta a todos. Precisamos de uma abordagem holística e colaborativa para abordar este problema, a fim de garantir que os nossos jovens tenham acesso a oportunidades de trabalho estáveis e significativas. É hora de agir e fazer a diferença para as gerações futuras.

Neste sentido, existem vários caminhos para solucionar este problema. O percurso a trilhar deve passar pela regulamentação de trabalho temporário, incluindo a criação de limites para a duração dos contratos e a garantia de salários justos e benefícios, a implementação de salário mínimo justo, a redução da jornada de trabalho, através do estudo da implementação da semana com quatro dias de trabalho para as empresas que assim o pretendam, o fortalecimento dos sindicatos e a implementação de leis que protejam os trabalhadores contra o trabalho não remunerado, como os estágios não remunerados.

Em suma, os jovens apelam a todos os membros do Governo, partidos políticos e organizações da sociedade civil que trabalhem em conjunto para combater a precariedade laboral dos eternamente (in)experientes, promovendo assim uma sociedade e um país mais justo e atractivo para todos.

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