Cansada de crime, Chicago escolhe entre combate musculado e aposta social

Presidente da câmara, Lori Lightfoot, foi afastada da corrida à reeleição. Na segunda volta vão estar em confronto propostas à direita e à esquerda do que aconteceu nos últimos quatro anos.

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Lightfoot é a primeira presidente de câmara de Chicago a falhar a reeleição nos últimos 40 anos Reuters/JIM VONDRUSKA

A corrida a presidente da câmara da terceira maior cidade dos Estados Unidos, Chicago, está a ser marcada por dois candidatos que defendem visões muito distintas sobre o combate à criminalidade e o apoio ao ensino, numa espécie de experiência de laboratório para outros testes eleitorais um pouco por todo o país.

Na noite de terça-feira, a actual mayor de Chicago, Lori Lightfoot, foi afastada da corrida na primeira volta da eleição, após um mandato de quatro anos marcado pela pandemia de covid-19 e pelas consequências das medidas de confinamento, que afectaram a economia da cidade e dificultaram o acesso das crianças e jovens às escolas.

Ao mesmo tempo, os índices de criminalidade violenta — incluindo os homicídios e os tiroteios — atingiram valores máximos desde 1999.

A criminalidade caiu em 2022, embora para níveis ainda superiores aos registados antes de 2020, e a economia da cidade já recuperou grande parte das perdas dos anos de pandemia; mas isso não foi suficiente para o eleitorado querer renovar a confiança em Lightfoot, a primeira mulher negra e a primeira pessoa gay a ser eleita para o cargo, em 2019. É a primeira vez nos últimos 40 anos que um presidente da câmara de Chicago não garante a reeleição para um segundo mandato.

Num estado — o Illinois — onde nenhum candidato do Partido Republicano vence a eleição presidencial desde 1988, e numa cidade — Chicago — onde não há eleições primárias para a escolha dos candidatos a mayor, ninguém ganha em apresentar-se ao eleitorado como republicano. Em vez disso, todos os candidatos dizem ser do Partido Democrata, uns de uma ala mais progressista, outros de uma ala mais conservadora.

Na segunda volta da eleição, a 4 de Abril, a escolha vai ser entre uma proposta musculada no combate à criminalidade, representada por Paul Vallas, de 69 anos, um conservador que conta com o apoio do principal sindicato de polícias de Chicago, e que é acusado pelos adversários de ser um "republicano disfarçado"; e um plano para a redução do crime centrado no apoio à saúde mental e à habitação, liderado por Brandon Johnson, de 46 anos, um defensor de políticas progressistas à esquerda de Lori Lightfoot.

Vallas saiu da primeira volta da eleição como favorito, com 34% dos votos contra 20% de Johnson, mas pode vir a ser penalizado na segunda volta; sendo o candidato menos progressista dos nove que se apresentaram na corrida, é possível que os eleitores dos sete que foram entretanto afastados se unam à volta do seu adversário a 4 de Abril.

Durante a campanha, Vallas apresentou-se como o único candidato capaz de fazer baixar os índices de criminalidade em Chicago, descrevendo a cidade de 2,7 milhões de habitantes como o cenário de um filme pós-apocalíptico.

"A segurança pública é um direito fundamental de cada americano. É um direito civil e é a principal responsabilidade de um governo", disse Vallas, num discurso na noite de terça-feira. "E nós vamos ter uma Chicago segura. Faremos de Chicago a cidade mais segura da América."

Também na noite de terça-feira, Johnson pediu o voto dos eleitores que não votaram em Vallas na primeira volta, retratando o seu adversário como um republicano disfarçado de democrata. "Não podemos ter este homem como mayor da cidade de Chicago. As nossas crianças e famílias não vão resistir."

Num certo sentido, a eleição em Chicago é uma repetição das divisões no eleitorado do Partido Democrata que ficaram patentes na eleição para a presidência da câmara de Nova Iorque, em finais 2021.

O vencedor dessa eleição, Eric Adams, também triunfou com um discurso centrado no reforço do policiamento, derrotando adversários que propunham soluções mais centradas nos problemas que dão origem à criminalidade, como a falta de apoio ao tratamento da saúde mental e a desconfiança entre a polícias e as comunidades.

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