Depósitos “encolheram” 2,5 mil milhões em Janeiro, a maior queda desde 1979

Canalização de poupanças para os Certificados de Aforro e amortizações de crédito explicam parte da queda dos depósitos. Crédito à habitação também cai.

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Forte saída de dinheiro dos depósitos acompanhada de forte aumento em novas subscrições de certificados de aforro Ricardo Lopes

O primeiro mês do ano fica marcado pela maior queda nos depósitos bancários desde 1979: o stock de depósitos de particulares nos bancos residentes diminuiu 2,5 mil milhões de euros face a Dezembro de 2022, totalizando 179,9 mil milhões de euros no final do mês, revelam dados divulgados esta segunda-feira pelo Banco de Portugal (BdP), que faz questão de salientar que se trata “da maior redução de depósitos de particulares desde o início da série estatística”.

A queda do montante canalizado para depósitos “ocorre num mês em que as subscrições líquidas de Certificados de Aforro (CA) aumentaram 2,9 mil milhões de euros”, destaca o regulador. Um alerta para os bancos, que estão a demorar a reflectir a forte subida das taxas nos depósitos, ao contrário do que está a acontecer nos créditos, cujos custos com juros têm subido de forma acentuada.

Mais concretamente, e segundo dados divulgados esta segunda-feira pelo IGCP, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, as novas subscrições de CA ascenderam a 3014 milhões de euros em Janeiro, e foram resgatados 105 milhões de euros, o que corresponde ao saldo positivo de 2,9 mil milhões de euros. O saldo total deste produto elevou-se a 22.534 milhões de euros.

Esta segunda-feira, a presidente do Banco Central europeu (BCE), Christine Lagarde, disse esperar que os bancos também reflictam as subidas das taxas de juro na sua remuneração de depósitos, o que não está a acontecer com a amplitude que se observa no crédito.

Ao contrário dos depósitos, os Certificados de Aforro têm visto a taxa de remuneração subir de forma muito significativa, uma vez que estão associados à Euribor a três meses. Para as novas entradas de dinheiro a fazer em Março neste produto de poupança do Estado, e para revisões a ocorrer em subscrições mais antigas, a taxa de juro será de 3,5%, o máximo estabelecido para a taxa-base, a que poderão ainda acrescer prémios de permanência.

A saída de dinheiro no início do ano também deverá reflectir alguma mobilização de poupança para pagar empréstimos à habitação associados à Euribor, operação que está isenta do pagamento da comissão de resgate (0,5% sobre o montante amortizado) até ao final do ano, uma possibilidade prevista no Decreto-Lei 80-A, de 25 de Novembro de 2022, que contém várias medidas para mitigar o impacto da subida das taxas Euribor.

Em termos de variação anual do stock dos depósitos, “Janeiro de 2023 foi o terceiro mês consecutivo em que o crescimento destes depósitos abranda: passou de 7% em Outubro de 2022 para 5,8% em Novembro, 5,4% em Dezembro e 3,7% em Janeiro”, adianta o BdP.

Crédito à habitação também cai

O montante acumulado de crédito à habitação também caiu em Janeiro, o que acontece pelo sexto mês consecutivo, mas a ritmo mais lento. Assim, no final do primeiro mês do ano, o stock do crédito para compra de casa caiu para cerca de 100 mil milhões de euros, menos cerca de 240 milhões de euros do que em Dezembro de 2022.

Em termos de variação anual, passou-se de um crescimento de 4,8% em Julho de 2022 para 3,1% em Janeiro de 2023.

A forte subida das taxas Euribor está a reduzir o recurso a novo crédito, a que deverá juntar-se alguma amortização antecipada (total ou parcial) de créditos à habitação. As taxas Euribor estão a acompanhar a subida das taxas directoras do Banco Central Europeu (BCE), que não vão ficar por aqui.

Em entrevista ao The Economic Times, publicada esta segunda-feira, Christine Lagarde indicou que o BCE vai continuar a subir o preço do dinheiro para conter a inflação, em conformidade com o objectivo a médio prazo de 2%,um patamar que ainda está longe. “Será preciso o que for preciso. O que eu sei é que vamos trazer a inflação de volta aos 2%. E queremos não só trazê-la de volta aos 2%, mas também mantê-la nesse nível de forma sustentável”, afirmou, observando que as taxas de juro são o instrumento mais eficiente nas circunstâncias actuais.

Houve ainda uma diminuição no valor acumulado do crédito ao consumo face ao final do ano passado. No final de Janeiro de 2023, estes empréstimos totalizavam 20,5 mil milhões de euros, abaixo dos 20,7 mil milhões registados em Dezembro de 2022. Face a Janeiro de 2022, a variação foi positiva em 4,5%.

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