Covid: relatório dos EUA relança hipótese de fuga acidental de um laboratório

Origem do vírus que causa a covid continua a ser alvo de questionamento. Hipótese mais plausível continua a ser o surgimento natural, mas há relatórios que questionam outras hipóteses.

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Representação do SARS-CoV-2, vírus que provoca a covid DOTTED YETI

Um relatório do Departamento de Energia dos Estados Unidos relança a hipótese de o SARS-CoV-2 – o vírus que causa a covid – ter tido origem numa fuga acidental de laboratório, revelou este domingo o jornal The Wall Street Journal. Mesmo assim, os resultados deste estudo têm uma base de certeza baixa. A Organização Mundial da Saúde e a comunidade científica continuam a considerar que a hipótese mais provável é a de origem natural.

O relatório do Departamento de Energia agora revelado é uma actualização de um documento do gabinete da directora de inteligência nacional, Avril Haines, de acordo com o The Wall Street Journal. O jornal indica também que se descarta a hipótese de uma fuga ligada a uma arma biológica e intencional. Inicialmente, o Departamento de Energia (que inclui uma rede de 17 laboratórios dos Estados Unidos) tinha referido que não tinha uma posição sobre como o vírus se tinha espalhado, relembra o The New York Times. Mesmo agora, a indicação da hipótese de fuga laboratorial acidental é feita com uma base de certeza baixa.

O jornal The Guardian relembra que este relatório se segue a um outro do FBI que indicava que se tinha uma “certeza moderada” de que o vírus se tinha espalhado após uma fuga de um laboratório na China. Segundo um estudo do Conselho de Inteligência Nacional dos EUA, citado pelo The Guardian, a CIA permanece indecisa sobre as hipóteses de transmissão natural ou fuga laboratorial.

A origem do SARS-CoV-2 tem sido uma questão desde o início da pandemia de covid-19, que foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em Março de 2020. Apesar de cientistas terem sempre sugerido que a hipótese mais provável seria a de origem natural, tem-se desde cedo vindo a pôr em cima da mesa a hipótese da fuga laboratorial.

A pandemia foi também desde cedo politizada pelo então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que chamou ao coronavírus o “vírus da China”, e os EUA investigaram a hipótese de fuga laboratorial. Também em Setembro de 2022, um relatório da revista médica The Lancet sobre os dois anos da pandemia indicava que se deveria considerar como origem tanto a propagação natural como a fuga laboratorial. Criticado nessa altura pela própria OMS por ter omissões e interpretações erradas, o relatório notava que ambas as possibilidades tinham o mesmo peso e probabilidade.

Cientistas da OMS que têm investigado a origem do vírus têm vindo a dizer que a hipótese mais provável é que o SARS-CoV-2 foi transmitido por morcegos e depois aos humanos por outro animal. No relatório destes cientistas que foram numa missão a Wuhan, consideraram a hipótese de fuga acidental de laboratório como “extremamente improvável” e que, por isso, não foi explorada de forma tão aprofundada, referiu-se em 2021 numa conferência de apresentação do relatório final.

Em Outubro de 2022, Bruce Aylward, conselheiro científico do director-geral da OMS, tinha referido ao PÚBLICO que o mais provável seria que o vírus tenha estado numa população animal e que tenha saltado depois para a população humana. Depois espalhou-se. “Este é o cenário mais provável e acho que há boa ciência para o demonstrar”, afirmava.

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