Morreu José Manuel Espírito Santo, antigo administrador do BES

Antigo administrador do BES morreu na madrugada deste sábado aos 77 anos.

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Fotografia de José Manuel Espírito Santo tirada em Dezembro de 2013 MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

José Manuel Espírito Santo, antigo administrador do Banco Espírito Santo (BES), morreu na madrugada deste sábado aos 77 anos no Hospital da Luz, confirmou o PÚBLICO junto de fonte próxima da família.

O antigo administrador, que tinha sofrido um AVC em 2019 que o deixou com lesões permanentes, morreu devido a um cancro.

Deixou mulher e quatro filhos, três filhas e um filho, que organizam este sábado uma missa íntima numa quinta da família, em Azeitão. O corpo estará em câmara ardente nessa propriedade, a Quinta do Perú-Brejos, este domingo entre as 17h e as 22h e o funeral decorre no dia seguinte, segunda-feira, às 11h30.

Ao PÚBLICO, o primo direito José Maria Ricciardi prestou um depoimento emocionado: “Era um bom homem, que se deixou levar por pessoas da família que eram exactamente o inverso, o que aconteceu ora por desconhecimento dos assuntos ou mesmo por ingenuidade. Mas, o meu primo teve a humildade de pedir desculpas públicas, ao contrário de outros membros da família, com maiores responsabilidades no que aconteceu ao BES, e que até hoje não o fizeram".

Ricciardi lamenta que José Manuel tenha acabado por passar o final de vida "muito mal e amargurado com os acontecimentos” que se seguiram ao colapso do GES e do BES, em Julho e Agosto de 2014, e nota que, mesmo nos momentos mais pesados, o primo teve sempre ao seu lado a mulher. Já com a com a voz embargada, desabafou: "Tenho pena que tudo isto se tenha passado com uma pessoa que, no fundo, era uma boa pessoa”.​

José Manuel Espírito Santo Silva, um dos responsáveis do grupo e chefe de um dos cinco ramos da família, foi o único a pedir desculpa aos clientes pela queda do BES. Na Comissão Parlamentar de Inquérito do BES em 2014, no Parlamento, o primo de Ricardo Salgado disse ter sido "surpreendido" com o que se estava a descobrir sobre a gestão do banco e do grupo.

"Lamento profundamente o que sucedeu e em meu nome pessoal e do ramo familiar que represento, quero deixar as minhas primeiras palavras a essas pessoas, que foi quem mais sofreu com tudo isto e que merecem pelo menos um pedido de desculpa institucional", afirmou o gestor. "Gostava que as minhas primeiras palavras fossem dirigidas aos clientes, investidores e colaboradores que confiaram na marca Espírito Santo. Embora isso não remedeie as suas perdas e o seu sofrimento, quero dizer que lamento profundamente tudo o que sucedeu".

O seu advogado, Rui Patrício, lamentou a morte do cliente que considerava "um verdadeiro amigo" e um "homem realmente bom". "Primeiro a doença e agora a morte interrompem a possibilidade de recuperar totalmente o seu bom nome, o que ao longo destes oito anos vem sendo conseguido, nomeadamente nos processos nos reguladores e nos tribunais, mas que ainda não estava concluído", afirma Patrício, em declarações ao PÚBLICO. O advogado sublinha que essa era uma das principais preocupações de José Manuel Espírito Santo, "para além da preocupação com o que aconteceu aos clientes, trabalhadores e todos os afectados pelos acontecimentos de 2014".

O empresário Pedro Silveira recorda que o seu pai e José Manuel Espírito Santo eram grandes amigos, que passaram por muitos momentos altos e baixos, e com quem aprendeu muito. "Era uma pessoa muito humana. Muito amigo do seu amigo", destaca Pedro Silveira.

José Manuel Pinheiro Espírito Santo Silva nasceu a 2 de Maio de 1945, tendo-se formado em Economia na Universidade de Évora.

José Manuel Espírito Santo estava acusado no processo relativo ao colapso do BES de sete crimes de burla qualificada e de um de infidelidade.​ O Ministério Público responsabilizava-o, a par de Ricardo Salgado e de Manuel Fernando Espírito Santo, de ter usado o BES para colocar papel comercial junto dos clientes de retalho emitido pela holding, apesar de conhecer a “situação financeira da Rioforte, exposta de forma irreversível à Espírito Santo Internacional”, que estava em insolvência técnica.

Esteve preso no 25 de Abril, como vários membros da família Espírito, tendo, nessa altura, perdido grande parte dos bens. Além de encabeçar um dos cinco ramos da família no conselho superior do grupo Espírito Santo, José Manuel foi presidente do Banco Privée Espírito Santo e da Sociedade Imobiliária e Turística da Quinta do Perú, além de administrador na ES Control, na ES Internacional e na ES Services no Luxemburgo. Com Sofia Neves

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