Duas mulheres russas, duas visões da guerra na Ucrânia

Têm o mesmo nome, mas posições contrárias em relação à guerra. Uma espera a vitória e apoia-a com orgulho, outra opõe-se publicamente a Putin e não esconde a tristeza.

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Duas mulheres chamadas Yekaterina com visões diferentes sobre a guerra
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Yekaterina, 38 anos, que apoia o Presidente russo Vladimir Putin e recolhe roupas e alimentos para enviar para Donbass REUTERS/Yulia Morozova
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Yekaterina Varenik tem 26 anos e opõe-se à guerra Reuters/YULIA MOROZOVA

Para duas mulheres russas, ambas chamadas Yekaterina, a guerra na Ucrânia despertou emoções muito diferentes. Uma apoia o Presidente Vladimir Putin e espera a vitória, enquanto a outra se opõe a Putin e pensa que a Rússia vai perder.

Um ano após Putin enviar tropas para a Ucrânia, as opiniões dos 145 milhões de russos sobre a guerra ainda são difíceis de perceber, embora as sondagens oficiais digam que a taxa de aprovação de Putin se mantém em cerca de 80%.

Yekaterina, 38 anos, é uma apoiante de Putin e acredita que a Rússia acabará por triunfar, apesar de estar agora a combater uma Ucrânia apoiada pela aliança militar da NATO liderada pelos EUA.

O seu apartamento no sul de Moscovo está cheio de sacos com roupas doadas e caixas de alimentos que recolheu para enviar para Donbass, controlado pela Rússia, onde muitas pessoas foram deixadas sem abrigo devido à guerra.

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Yekaterina, de 38 anos, apoia o Presidente russo Vladimir Putin REUTERS/Yulia Morozova

"Quando o meu namorado partiu para lutar como voluntário, compreendi que tinha de fazer algo para ajudar", diz, pedindo que o seu apelido não seja usado por medo de ser alvo de abusos online por parte de apoiantes da Ucrânia.

"Precisamos de ajudar a defender o nosso país, as nossas famílias, aqueles que estão próximos de nós e toda a Rússia", conclui, acrescentando que apoia Putin e o caminho actual da liderança do Kremlin.

No seu apartamento, separou dezenas de sacos, etiquetando cuidadosamente os que continham roupa de Inverno, botas forradas de pele e roupa de bebé, por vezes descartando botas que não estavam em boas condições.

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Yekaterina e o seu filho REUTERS/YULIA MOROZOVA

Sondagens do Levada Center de Moscovo indicam que cerca de 75% dos russos apoiam os militares russos, enquanto 19% não o fazem e 6% não sabem. Três quartos dos russos esperam que a Rússia seja vitoriosa.

Muitos diplomatas e analistas duvidam dos números. "Apoio o Presidente e penso que ele está a trabalhar bem", diz Yekaterina. "A Rússia sairá vitoriosa — inequivocamente".

Dois pontos de vista

Apenas 10 quilómetros a sul, uma outra Yekaterina tem uma visão completamente diferente. Yekaterina Varenik, de 26 anos, que costumava trabalhar na empresa de gás Gazprom controlada pelo Estado, odeia a guerra e opõe-se publicamente a Putin.

Depois de um ataque russo a Dnipro no mês passado, ergueu um cartaz que dizia "Os ucranianos não são nossos inimigos, mas nossos irmãos" em frente à estátua de Lesya Ukrainka, uma poetisa ucraniana de Moscovo.

O seu apartamento está vazio. Tudo foi vendido ou armazenado enquanto fazia as malas para deixar a Rússia para se juntar ao seu marido, que partiu logo após Putin ter mandado tropas para a Ucrânia.

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Yekaterina Varenik foi detida por ter segurado um cartaz que dizia "Os ucranianos não são nossos inimigos, mas nossos irmãos" REUTERS/YULIA MOROZOVA
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Yekaterina Varenik tem 26 anos, e opõe-se publicamente ao Presidente russo Vladimir Putin REUTERS/Yulia Morozova

Varenik recorda o choque e a emoção quando ouviu pela primeira vez que a guerra tinha começado no dia 24 de Fevereiro do ano passado. Como muitos russos, tem amigos e família que atravessaram as fronteiras da Rússia pós-soviética e da Ucrânia. Lembra-se de passar férias na Ucrânia quando era criança. Agora, a sua família está dividida por várias fronteiras fechadas e linhas da frente intransitáveis.

Após o seu protesto, passou 12 dias detida. "Muitos dos meus amigos partiram", diz Varenik. "Se estás em perigo, e para não seres cúmplice destes acontecimentos, precisas de usar todos os meios para escapar."

Desde que a guerra começou, e após a mobilização parcial de Putin em Setembro, parte das elites culturais, tecnológicas e económicas de Moscovo partiu na maior onda de emigração desde os anos que se seguiram ao colapso da União Soviética, em 1991.

Pouco depois do início da guerra, Putin avisou os russos para estarem atentos aos "traidores" e "escumalha" russos que o Ocidente tentaria usar para destruir o país.

"Os ucranianos não são nossos inimigos, mas nossos irmãos", lia-se no cartaz REUTERS/YULIA MOROZOVA
"Os ucranianos não são nossos inimigos, mas nossos irmãos", lia-se no cartaz REUTERS/YULIA MOROZOVA
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"Os ucranianos não são nossos inimigos, mas nossos irmãos", lia-se no cartaz REUTERS/YULIA MOROZOVA

Alguns funcionários têm estado preocupados com um êxodo tão grande de talentos russos, embora outros rejeitem as preocupações e digam que a sociedade russa está agora muito mais unida sem aqueles cuja lealdade é questionável.

"É muito triste, mas parece-me que isto não vai acabar tão cedo", considera Varenik. "Penso que isto só vai acabar quando a Rússia admitir a derrota ou perder".

Na sua opinião, a reputação da Rússia e dos russos será manchada para sempre. "Nós, na Rússia, provavelmente nunca seremos capazes de a lavar."