Que alunos queremos formar?

Estamos a criar indivíduos que “debitam matéria” em provas, com o único propósito de alcançarem uma média suficiente para dado curso superior ou para pertencerem a um quadro de honra sem sentido.

As greves sucedem-se. São reivindicações daqueles que consideram a sua profissão desrespeitada: os professores. Falamos de uma carreira que tem sido pautada por imensos obstáculos, ano após ano, até que a corda esticou… e rebentou.

Mas há muito que vinha a rebentar. Convenhamos, a situação que se vive diariamente nas nossas escolas não é, nem de longe nem de perto, a mais perfeita. Na verdade, falamos de uma instituição que como que parou no tempo, tornando-se obsoleta em muitos sentidos e necessitando urgentemente de uma reforma.

Os professores estão desmotivados com os vários aspetos bem conhecidos em praça pública e todos esses aspetos são merecedores no nosso apoio. Mas ainda que esses problemas fossem resolvidos, quantos outros ficariam por resolver? Pensemos, por exemplo, na extensão dos programas. Como pode um professor aprofundar conteúdos, trabalhá-los de modo a fomentar o sentido crítico dos seus alunos, quando sente a pressão de lecionar tanta matéria em tão curto espaço de tempo? Será que quem desenha estes programas para cada disciplina tem a verdadeira noção do que é estar numa sala de aula, de como se processa a relação ensino-aprendizagem?

Espírito crítico precisa-se! Estamos a criar indivíduos que “debitam matéria” em provas, com o único propósito de alcançarem uma média suficiente para terem acesso a um dado curso superior ou para pertencerem a um quadro de honra sem sentido, quando devíamos estar a formar pessoas pensantes, que debatem temas e aprendem através da troca de ideias. O importante, creio, é aprender, pensar, analisar a realidade, perspetivar o presente a partir do passado e pensando no mundo que desejamos para o futuro. Memorizar não chega. Aliás, é extremamente redutor. Os alunos gostam de aprender, desengane-se quem os acusa do contrário. Mas precisam de ter aulas apelativas, motivadoras, e necessitam de sentir que têm uma voz que é válida.

Por todos estes motivos, as aulas têm de ser repensadas, assim como os conteúdos. Temos muito a aprender com os jovens e os jovens têm muito a aprender connosco. E é a partir interação preciosa entre professor-aluno e aluno-aluno que nasce o saber, na sua forma mais pura e consolidada. Evidentemente, que, nesta relação, o respeito se torna fundamental. Mas também este se cria em interação. Basta que sejam usadas as ferramentas certas e que os professores sintam o apoio dos encarregados de educação e da direção das suas escolas ou agrupamentos.

Os professores amam a sua profissão, mas estão espartilhados. Seja, pois, dada mais liberdade aos professores e todos teremos a lucrar com isso.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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