Fotografia
No “novo mundo” do LSD, ouviu Deus e o diabo. Agora, conta-o em imagens
Sari Soininen carregava um "passado sombrio": um episódio psicótico de vários meses, induzido pelo uso de drogas. Por isso, revisitou-o em fotografias para o contar a toda a gente.
Quando Sari experimentou LSD pela primeira vez, aos 24 anos, dificilmente imaginava que a curiosidade inicial lhe abriria as portas de um mundo novo e "sobrenatural". "No início senti-o como uma experiência divina, como se fosse a escolhida de Deus. Tudo era entusiasmante, não me assustava. Isso mudou quando o diabo começou a falar comigo", conta a fotógrafa finlandesa, que agora apenas revisita esse mundo através da fotografia.
Durante meses, num longo episódio psicótico induzido pelo uso de drogas, viu a realidade que conhecia transformar-se diante de si. Deus não tinha propriamente uma voz que pudesse ouvir, explica, em conversa com o P3. "Era mais uma intuição, uma sensação de que precisava de fazer certas coisas, de que recebia sinais divinos para as fazer." A certa altura, Deus disse-lhe que devia tomar mais LSD, para fazer parte desse mundo que agora se revelava e onde tudo estava interligado.
Hoje, aos 31 anos, Sari Soininen não põe sequer a hipótese de voltar a esse lugar através de drogas, por "medo de não regressar". É na fotografia que encontra a melhor forma de expressar o que viveu, por isso, nos últimos anos, juntou imagens que a relembram dessa experiência, agora publicadas no livro Transcendent Country of the Mind.
"O título é de uma frase do livro As Portas da Percepção, em que Aldous Huxley descreve a sua experiência com mescalina. Lê-lo ajudou-me a perceber a minha experiência e deu-me as palavras para a descrever", justifica. "Para mim, esse lugar fica na zona mais profunda da nossa mente."
Além da memória das alterações na percepção do mundo que a rodeava, desses meses guarda também o trauma. "Não me arrependo, mas há coisas que gostava que nunca tivessem acontecido, como livrar-me de tudo o que tinha. Tinha-me livrado de mim própria e renascido", escreve no livro publicado no final de 2022.
Foi essa a explicação dada às autoridades quando, depois de um acidente de carro, entraram no seu apartamento. No livro, a fotógrafa relata uma viagem de carro com o namorado: os dois estavam sob o efeito de LSD e acreditaram que conduziam em direcção a um "novo mundo". Despistaram-se quando — ambos de olhos tapados — tentavam entrar nesse país imaginado.
"Porque é que falei sobre isto tão abertamente? Não é que quisesse dizer a toda a gente que tomei um monte de LSD. Mas senti que precisava de ser honesta. E, quando comecei a falar sobre isto em público, tornou-se terapêutico", diz, ao telefone, a partir de Helsínquia. "Permitiu-me largar este passado sombrio que tinha de esconder e senti-me livre."